O mais curioso de todo o processo BCP é o carinho com que estão a ser tratados os responsáveis pelas trafulhices que têm vindo a público. Enganaram clientes levando-os a pedir crédito para comprar acções sobrevalorizadas enquanto os amigos beneficiaram de milhões em perdões manhosos e à custa dos mesmos accionistas que foram lesados com as suas práticas, beneficiaram de benesses ficais que tresandam de mau cheiro, foram envolvidos na Operação Furacão, mas continuam a ser tratados como exemplos de virtudes, Cadilhe até se candidatou à liderança do banco para lhes defender a honra.
Por muito menos a ASAE fechou a Ginginha do Rossio e não estarei enganado se disser que o montante total dos roubos cometidos pelos que estão nas prisões portuguesas condenados por roubo, furto, fraude ou assalto à mão armada é muito inferior aos prejuízos que estes senhores infligiram aos accionistas cujo interesse estavam obrigados a defender.
É evidente que neste país há dois pesos e duas medidas, há a justiça dos ricos e a justiça dos pobres, a ASAE dos restaurantes e o Banco de Portugal dos banqueiros. A estes últimos não é conveniente incomodar em nome do mercado financeiro, o mesmo mercado onde se enriquece à custa da fraude, do inside trading, da manipulação da informação contabilística e do abuso na gestão do dinheiro dos accionistas.
Parece que por cá protege-se a transparência e o bom funcionamento do mercado financeiro escondendo as vigarices e protegendo os trafulhas e oportunistas. O dinheiro dá para tudo e para todos. Ao pé do gang da Rua Augusta o gang do multibanco não passava de um bando de aprendizes.