Confesso que a remodelação governamental me surpreendeu, a pouco mais de um ano de legislativas nenhum dos novos ministros vai fazer algo de substancial a não ser substituir a imagem do ministro anterior. Estava convencido de que Sócrates iria preferir liderar o primeiro governo a chegar ao fim do mandato sem remodelações, deserções ou revoltas a “bordo”. Ao remodelar acabou por me surpreender duplamente, por ter remodelado e pelos ministros que substituiu, trocou o ministro que dava mais nas vistas e uma ministra de que ninguém já se recordava que ocupava a pasta da cultura. A par dos ministros houve um secretário de Estado que teve honras de remodelação, sorte que não terão os anónimos secretários de estado da Saúde e da Cultura.
Correia de Campo é o exemplo do técnico que não tem jeito para a política, tal qualidade implica nada fazer e dar-se bem com as forças vivas da nossa sociedade, os autarcas, o aparelho do partido e os jornalistas. Correia de Campos deu-se mal com eles todos, logo nos primeiros tempos teve que enfrentar algumas distritais do PS por não nomear os boys sugeridos pelo partido. Ao querer reformar o SNS Correia de Campos teria que cair em desgraça, o SNS desejado pelos autarcas e pelos aparelhos partidários é uma espelunca cara que fica perto de todas as populações, pouco lhes importa a qualidade, o importante é que os eleitores mais velhotes se sintam acarinhados.
O desenvolvimento técnico da saúde exige grandes investimentos em tecnologias e recursos humanos, obrigado a uma alteração do modelo de distribuição dos sérvios de saúde. O ministro começou a reforma mas não a explicou, pior do que isso, esqueceu que a concentração das urgências obrigava a um forte investimento no transporte de doentes. Os últimos dias evidenciaram que alguém se esqueceu de que eram necessários transportes de urgência eficazes, tecnicamente bem apetrechados e pessoal especializado. É bom ter uma urgência muito eficaz mas se esta fica a trinta ou quarenta quilómetros de nada serve se o doente chegar lá morto porque foi atendido por um bombeiro voluntário com carta de ligeiros.
Quanto à ministra da Cultura pouco há a dizer, ninguém percebeu se havia política para a cultura, que havia ministra percebia-se de vez em quando pelas asneiras que ia fazendo.
Como era de esperar Amaral Tomaz saiu como entrou, quando tomou posse foi o único governante a correr para os jornalistas para lhes dizer “cheguei!”, na hora de sair também foi o primeiro a ir correr para os mesmos jornalistas para lhes dizer “vou sair!”. Independentemente das suas qualidades técnicas Amaral Tomaz não tem perfil para político e se o tivesse faria mais sentido ter participado num governo do PSD. Nunca a DGCI foi tão “laranja” do que como a deixou, nem os governos do PSD ousaram nomear tantos boys do PSD para cargos de alta responsabilidade.