Em democracia os políticos só sobrevivem se fizerem a vontade aos eleitores ou pelo menos algumas vontades, os únicos governantes rigorosos que sobreviveram muito tempo conseguiram-no graças à ditadura. A democracia portuguesa tem uma longa história de condenação dos governos rigorosos, todos os governos que reequilibraram as contas públicas foram derrotados nas eleições que se seguiram.
As políticas duras propostas pelos Chicago Boys, de que andam por cá muitos admiradores saudosistas foram bem sucedidas, mas graças a uma ditadura conduzida por Pinochet. Dificilmente seriam aceites em democracia. Mário Soares pagou bem caro as políticas de reequilíbrio que teve de aceitar como condição para cumprir os acordos que o país teve de assinar com o FMI. Mas nessa altura Luís Cunha estudava nos EUA e quase que aposto que era um admirador de Milton Friedman, coisa que nesse tempo ficava bem a qualquer estudante de economia mais ambicioso, o amor à esquerda veio-lhe mais tarde como se viu pela pensão do Banco de Portugal.
Não deixa de ser curioso que a direita portuguesa que governou durante tantos anos a coberto de uma ditadura tenha agora aprendido a ser oportunista, dando à esquerda a tarefa de reequilibrar as contas, aproveitando o mal-estar para ganhar eleições e aproveitar-se dos esforços feitos para mostrar obra e voltar a desequilibrar as contas públicas. Essa manobra foi bem sucedida com Cavaco Silva e Manuela Ferreira Leite volta a experimentar a receita, ela que deixou o país à beira de uma crise financeira aparece agora como a boa moeda cavaquista que nos vais livrar dos males da economia, ela que durante dois anos dava diariamente a boa nova de que os sinais de retoma já eram quase visíveis, quer agora ser primeira-ministra beneficiando do trabalho alheio.
Mas à SEDES não cabe analisar a oposição, nos últimos anos ressuscitou para avaliar o governo, desta vez descobriu que Portugal é uma democracia e os governos são forçados a pensar nos eleitores. Não lhe cabe dizer se prometer distribuir o dinheiro das obras públicas pelos pobres é eleitoralismo ou mesmo populismo pimba, mas cabe criticar os governo porque em quatro anos de mandato tomou algumas medidas de que a oposição diz estarem aquém do desejado.
Onde estava a SEDES quando Correia de Campos foi substituído? Lembro-me de ouvir algumas vozes virem em defesa do ex-ministro da Saúde, não me recordo de ver a SEDES tomar qualquer posição. Nessa altura PSD e PCP uniram-se sob o disfarce do anonimato para organizarem dezenas de manifestações. Onde estava a SEDES para dizer que ir parir a Badajoz não era ofensivo para a Nação, onde esteve a SEDES na hora de defender as reformas corajosamente implementadas por Correia de Campos? Eu digo onde estava a SEDES, estava cobardemente em silêncio.
Agora a SEDES veio armada em virgem nestas coisas da política e descobre que em democracia os governos adoptam medidas simpáticas em vésperas de eleições, que grande novidade! Não sabiam, ou no mundo deles só existem ditaduras? Veja-se o que se passa nos EUA ou em qualquer democracia ocidental.
A crítica da SEDES tem algum fundamento mas revela uma insuficiência de valores democráticos por parte de alguns dos seus tecnocratas, exigir que um governo adopte medidas difíceis até ao dia das eleições ou é desejar que um governo faça a parte difícil para que o segundo governe à Cavaco Silva, ou então esta gente foi muito bem-educada considera que a fórmula de governo mais aceitável pelos tecnocratas é a ditadura.
É mais um caso em que me apetece dizer que “ao mau cagador até as calças empatam”.