O PCP tem a sua poção mágica que até assenta numa ideologia científica ainda que os testes realizados no século XX tenham sido uma desgraça. Na versão lusa a poção mágica é o “país de Abril”, ainda há alguns dias o Bernardino apresentou uma lista de medidas que nos resolviam todos os problemas. O PSD considera-se a si próprio uma poção mágica, para os seus dirigentes é o único partido que tem competência para governar, um tique da nossa direita que vem dos tempos em que tinha o exclusivo vitalício da governação. O próprio Sócrates apresentou-se ao eleitorado com a sua poção mágica, ainda que feiticeiros ajudantes como a directora da DREN ou o inspector-geral da ASAE lhe tenham estragado o caldinho.
Compreende-se o secretismo de Ferreira Leite em torno da sua poção mágica, da última vez que chegou ao governo com Durão Barroso nem chegou a preparar qualquer feitiço, limitou-se a encher o país com outdoors a dizerem-nos que o país estava de tanga e ganhou as eleições num momento de distracção do eleitorado. Uma semana depois as sondagens já lhes davam uma derrota, mas o oportuno processo Caso Pia permitiu ao PSD governar sem oposição.
Desta vez Manuela Ferreira Leite já ensaiou a teoria da tanga e até contou com a chancela do agora disponível António Borges que com aquele ar de melhor aluno do liceu que todos lhe conhecemos sintetizou a posição do FMI sobre os problemas da economia portuguesa como se tivesse sido a sua última descoberta. Só que não é preciso ler nenhum relatório do FMI para conhecer os problemas da economia portuguesa, são os mesmos desde o primeiro choque petrolífero, desequilíbrio externo, baixa produtividade, atraso tecnológico, etc., etc..
É tempo de os políticos e de todos os portugueses perceberem que os nossos problemas não se resolvem com poções mágicas, mas sim da mesma forma que todos os países desenvolvidos, com boa governação e trabalho. De nada nos servem boas políticas de educação ou de justiça se professores e magistrados não corresponderem, da mesma forma que por mais juízes e professores dedicados que existam pouco se mudará naqueles sectores se os ministros forem incompetentes.
O problema de Manuela Ferreira Leite não está em revelar-nos a poção mágica nas vésperas das legislativas, está em provar-nos que a ministra da educação que foi incompetente, ou a ministra das Finanças que nos deixou as contas públicas em mau estado, consegue ser agora uma primeira-ministra competente. Até agora não o conseguiu fazer, deu mostras de não ter qualquer projecto político, deu uma cambalhota por semana na questão das obras públicas e acabou por mostrar que já não é uma pessoa deste tempo. Um desastre lamentável.