sexta-feira, julho 25, 2008

A greve na TAP e o pessoal da Qta da Fonte

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A TAP é uma empresa onde muitos trabalhadores portugueses gostariam de trabalhar, já teve melhores dias, ainda assim é uma empresa apetecível. Enquanto outras empresas de aviação, algumas mais sólidas do que a TAP, a transportadora aérea sobreviveu graças aos contribuintes portugueses.

Enquanto muitas companhias de aviação fecharam as portas ou recorreram, a despedimentos colectivos, enquanto os funcionários públicos portugueses perderam poder de compra e alguns deles foram para os “disponíveis”, enquanto os contribuintes pagam mais impostos, enquanto muitos portugueses conheceram o desemprego provocado pela mesma crise que afecta a companhia de aviação, a TAP tem sobrevivido.

Mas isso pouco importa aos trabalhadores da TAP, pouco lhes importa que os resultados das suas greves seja suportada pelos contribuintes, que os seus aumentos salariais sejam pagos pelos contribuintes, que uma boa parte dos seus empregos sejam mantidos graças aos contribuintes, pouco lhes importa que a sua empresa se consiga manter mesmo num ambiente económico mundial adverso e com aumentos brutais dos combustíveis.

E pouco lhes importa porque sabem que ao contrário das outras companhias de aviação e das empresas privadas a TAP não fecha as portas por maiores prejuízos que tenha de suportar, porque há um tubo que liga o orçamento da TAP às recitas fiscais. Portanto podem ser indiferentes à realidade e defender os seus interesses, sabem que nenhum governo faz aquilo que, muito provavelmente, já deveria ter sido feito há muito tempo, declarar a falência da TAP ou proceder à sua privatização. Tal como sucedeu em muitas empresas que foram privatizadas os seus trabalhadores revolucionários tornar-se-iam cordeirinhos obedientes, zurzindo em silêncio contra a privatização e chorando de saudades de quando a TAP era uma empresa com capitais do Estado.

Os mesmos que não se cansa de defender as empresas públicas usam-nas para testarem o seu fulgor revolucionário, para fazerem a sua “luta de classes” da treta, é por isso que em Portugal só há greves nas empresas públicas, aquelas onde não há desemprego, os direitos dos trabalhadores são mais respeitados e o ordenado é transferido na hora certa.

Os trabalhadores da TAP lembram-me os residentes da Qta da Fonte que acamparam que não trabalham, não pagam as rendas das casas, recebem rendimentos mínimos muito superiores ao salário mínimo e têm a casa recheada de electrodomésticos caros, televisões e Playstations nos quartos dos filhos e ainda acham que deve ser o governo a resolver-lhes um “problema” que, afinal, são eles próprios.

Da mesma forma que, indiferentes à crise geral, os trabalhadores da TAP acham que os seus direitos estão acima da realidade, também os nossos “amigos” da Qta da Fonte julgam-se no direito de ultrapassar os outros cidadãos e ocupar as casas que acabaram de ser construídas. Quer uns, quer outros há muitos que se habituaram a viver do Orçamento de Estado considerando-se como seus clientes prioritários.

Talvez esteja na hora de explicar aos trabalhadores da TAP que à sua volta há uma crise económica, que o seu país atravessa dificuldades e que o Estado tem enfrentado dificuldades financeiras que têm sido superadas com o sacrifícios de alguns portugueses. E a forma mais pedagógica de explicar isso aos trabalhadores da TAP é declarando a sua falência ou procedendo à sua privatização, porque entre os interesses dos trabalhadores das TAP e o dos portugueses os destes estão primeiro. Depois vão chorar com saudades das conquistas de Abril.