O último exemplo foi-nos dado pela questão do nuclear, os mesmos ecologistas que são contra o aquecimento global têm medo do nuclear como o diabo da cruz. Pois, o melhor seria andarmos todos de carrinho e podermos dispensar o nuclear ao mesmo tempo que lutávamos contra o aquecimento global. A gasolina é cara e poluente? Não faz mal, andaríamos com sofisticados carros eléctricos. Somos pobres e não podemos comprar esses carros? Não faz mal, andamos de transportes público. Estes transportes usam gasóleo? Bem, andamos a pé que é bom para a saúde.
O ideal, o ideal seria termos barragens e tudo ser eléctrico, mas para isso teríamos que ter sol na eira e água no nabal, não é muito fácil construir barragens num país onde o passatempo dos pastores do paleolítico era fazer rabiscos artísticos nas encostas sobranceiras aos rios. O ideal mesmo era termos uma barragem em Foz Côa e podermos ter lá as gravuras que não sabem nadar.
Nas empresas o ideal seria os trabalhadores poderem fumar umas cigarradas, ganhar horas extraordinárias por cada minuto para além do horário, preservando o direito à cigarrada nessas horas, ganhar muito mais, ser impossível qualquer despedimentos e mesmo assim a empresa ser competitiva, ser capaz de concorrer em simultâneo com as congéneres europeias e asiáticas. Também no mercado do trabalho o ideal seria ter sol na eira e água no nabal.
E que bom que seria se o Estado pudesse fazer tudo o que o PCP vai propondo e ao mesmo tempo fossem garantidos níveis dos défices e da dívida pública que não impedisse o crescimento que o mesmo PCP exige? Se há professores no desemprego encolhem-se as turmas, um centro de saúde e uma escola primária em cada aldeia, criação de emprego público para compensar o desemprego no sector privado assegurando o direito constitucional ao emprego, reposição das borlas de Abril no ensino e na saúde, etc., etc., etc.. Quem não gostaria? Seria como ter sol na eira e água no nabal, mas Abril é isso mesmo, criar o paraíso por decreto-lei e se alguém estiver contra convoca-se a cintura industrial de Lisboa e cerca-se o parlamento.
Enquanto os outros povos procuram responder à crise os políticos e grupos corporativos continuam apostados em encontrar uma solução para que possamos ter sol na eira e água no nabal, é isso que prometem aos portugueses e exigem dos governos.