quinta-feira, julho 03, 2008

¿Porque no [hablas] te callas Manuela?



Confesso que Manuela Ferreira Leite me deixa dividido, se visto a pele de um opositor (o que no meu caso é muito fácil) apetece-me perguntar-lhe “¿Porque no hablas Manuela?”, mas se me puser na posição de um militante do PSD dá-me para imitar Juan Carlos e perguntar em tom de sugestão “¿Porque no te callas Manuela?”.

Desde que ganhou as directas só falou duas vezes, da primeira para garantir que o dinheiro das obras era para dar aos pobres e pouco mais disse, para que não especulássemos sobre o seu pensamento até proibiu os que a ouviam de lerem nas entrelinhas, ainda que as suas entrelinhas pareçam mais com um antigo caderno de caligrafia em branco. Da segunda vez, numa entrevista na TVI, passou o tempo a tentar alterar o pouco que disse no congresso a propósito das obras públicas, para além de se ter enterrado mais um pouco. Isto é, se num dia nos disse para lermos nas entrelinhas, no outro veio dizer-nos que nem nas linhas deveríamos ter confiado.

No congresso Ferreira Leite prometer desviar dinheiro das obras públicas para dar aos pobres, um objectivo muito caridoso de que qualquer economista sério discorda. Só estou a ver a Madre Teresa de Calcutá seguir essa via, isso se a madre não tivesse o bom senso suficiente para entregar o assunto a um economista. Ferreira Leite percebeu o erro político que cometeu e veio esclarecer que não estava em causa nenhuma obra em concreto, referia-se a todas, ainda que Morais Sarmento e outros apóstolos não oficiais já tivessem vindo explicar que era o TGV que estava em causa. Para Ferreira Leite todas as obras são um problema, não há dinheiro.

Coitados dos pobres, se não há dinheiro para as obras públicas como é que Ferreira Leite disse no congresso do PSD que ia buscar o dinheiro a essas obras para os ajudar? Com não tem vocação para Rainha Dona Isabel seria bom que Manuela Ferreira Leite da mesma forma que exige as contas das obras, também apresente as suas contas dos pobres.

Na entrevista que deu a uma muito dócil Constança Cunha e Sá a líder do PSD deu-nos mais um bom exemplo da profundidade do seu pensamento político, defendeu, a propósito do encerramento dos centros de saúde, que o Estado deveria construir os centros de Saúde e só depois, quando os cidadãos soubessem que o novo era melhor, seria encerrado o antigo. Já estou a ver, quando a comadre tivesse uma enxaqueca ia a um e quando precisasse da pastilha para a tensão alta ia ao outro. Durante uns meses o Estado pagaria a despesa dos dois centros, até que a maioria dos habitantes optasse por um. E se os cidadãos optassem pelo velho? Manuela Ferreira Leite mandava demolir o novo?

Pois é, não há dinheiro para as obras públicas, logo, também, não há dinheiro para os pobres, mas há dinheiro para manter cem ou duzentos serviços públicos em duplicado. Bem, estou a partir do princípio razoável de que esta solução brilhante só se aplicaria aos centros de saúde, ainda que seja igualmente eficaz para a generalidade das infra-estruturas públicas, senão teríamos que ocupar parte de Espanha para podermos ter um Portugal em duplicado.

Esta solução de Ferreira Leite lembra-me as senhoras que vão comprar o vestido ao El Corte Inglês, usam-no no casamento e depois voltam lá para o devolver com a desculpa que lhes ficava mal. Se no caso das obras Manuela Ferreira Leite me lembrou a Madre Teresa, já na solução para os centros de saúde a líder do PSD encontrou uma solução digna das dondocas do nosso Jet Set.

Apetece-me dizer-lhe “habla,. Habla, habla mas Manuela!”, mas também percebo os muitos militantes do PSD, principalmente os apoiantes de Pedro Passos Coelho, que estarão pensando “¿Porque no (hablas) te callas Manuela?