Nasci e cresci numa terra onde o PCP costumava ter uma maioria absoluta (hoje apoia discretamente uma autarquia do PSD), na minha família o PCP também ganharia por maioria absoluta, conheci muitos comunistas da minha terra quase desde que nasci e tinha por eles grande consideração. Li dezenas de edições do Avante, da revista “Vida Soviética” com as suas capas cheias de trabalhadoras russas anafadas e de pele rosada, li muitas edições da “Sputnik”, a concorrente da Reader´s Digest onde se exibiam os sucessos soviéticos. Quando a minha mãe faleceu o PCP local colocou a a bandeira a meia haste e as flores que decoraram a urna foram cravos.
Nunca me convenceram a aderir aos ideais do PCP mas aprendi a ter respeito pela sua história e pelos seus militantes, atitude que se manteve até há alguns anos, quando comecei a ficar farto de ver o PCP apoiar a queda de governos de esquerda sempre que os seus dirigentes julgam que podem ganhar alguns votos com eleições.
Com o Jumento conheci um novo PCP, um PCP rasca que não respeita as ideias dos outros, que se serve de tudo (como sucedeu no Processo Casa Pia) para eliminar adversários, que odeia mais a esquerda do que a direita. Aturei pacientemente dezenas de comentários vindo do PCP que também poderiam ter sido escritos por neo-nazis, fui paciente com a presença regular de comentadores cuja tarefa era desprestigiar as opiniões aqui expressas enchendo a caixa de comentários com ofensas a todos os que não seguem a cartilha ou que por serem mansos são designados pelos “outros democratas”. Desde que deixei de poder ser enquadrado na designação dos “outros democratas” foi um chorrilho de ofensas.
Terá sido O Jumento a fazer-me mudar de opinião ou o próprio PCP que mudou nos últimos anos? Acho que sucederam as duas coisas, O Jumento colocou-me na linha de fogo do PCP mais rasca e após sucessivas purgas o PCP mudou muito. Hoje são escassos os militantes do PCP reconhecidos pela sociedade pela sua cultura e inteligência, a uma boa colheita intelectual as purgas deram lugar a uma péssima colheita, o que se reflecte nos seus militantes, começando pelo próprio Jerónimo de Sousa que me lembra o avô dos anúncios publicitários dos pudins Boca Doce.
No tempo de Álvaro Cunhal (quando Vital Moreira e muitos outros militavam no PCP) havia um mundo de virtudes para defender, era o lado socialista que graças a um muro de mentiras e censura parecia uma sociedade perfeita, essa era a convicção sincera de muitos dos seus militantes. Os movimentos de “libertação” apoiados pelo PCP eram apoiados ou aceites como credíveis pela generalidade dos democratas.
Mas com os actuais dirigentes tudo mudou, o mesmo PCP que em público acha que lhe cabe certificar quem é democrata ou de esquerda, em privado (basta ler o Avante) tenta desesperadamente justificar o injustificável, nas edições do Avante lemos a defesa semanal de regimes como os do Sudão, do Zimbabué e o próprio Bernardino Soares elogia a Coreia do Norte em público. Alguém imagina Álvaro Cunhal a defender em público o doente mental da Coreia do Norte, os raptos das FARC ou o tarado do Mugabe em Público ou mesmo nas páginas do Avante? Nem pensar, basta ler as edições mais antigas do jornal.
O mesmo PCP que invoca as suas vítimas da perseguição política apoia assassinos de democratas, líderes políticos responsáveis por genocídios, basta ver o Ocidente a apoiar um dos lados para que este PCP não hesite em apoiar o outro lado, mesmo que desse lado estejam os assassinos da Sérvia, do Darfur ou mesmo do Afeganistão. Os que em outros tempos eram agentes da CIA, como os Taliban ou os seguidores de Bin Laden, hoje são tratados no Avante são tratados como a “resistência afegã” que luta contra o imperialismo. Se este PCP recuasse aos tempos da invasão da Normandia não seria difícil de adivinhar se apoiava os Aliados ocidentais ou o Hitler, muito provavelmente falaria em “resistência europeia”.
Não admira que a luta política que seguia regras muito rígidas que distinguiam entre o que era ou não aceitável para a esquerda, tenha dado lugar a métodos sujos próprios de qualquer grupo neo-nazi, o debate de ideias deu lugar aos apupos e assobios, em vez da apresentação do projecto político tenta-se silenciar os adversários. Agora organizam-se manifestações “espontâneas” convocadas por sms para apupar os líderes dos outros partidos junto às suas sedes, já nem mesmo a presença do amigo Hugo Chavez e a proximidade denunciadora de um importante centro de trabalho do PCP, impede o recurso ao truque dos assobios e apupos.
Este PCP deixou de ser o partido que aprendi a respeitar na infância, os seus dirigentes deixaram de ser as pessoas inteligentes e cultas por quem tinha consideração apesar das diferenças, deixou de usar métodos de luta e causas às quais me poderia associar. Este PCP é liderado por gente intelectualmente menor, que tem pouca consideração pelas opiniões dirigentes e para quem quaisquer métodos servem para silenciar os adversários políticos. Gente que invoca o passado para se considerar superior aos outros, mas que nunca levaram um beliscão e que não hesita em defender assassinos de democratas. Para este PCP os métodos dos fascistas ou as técnicas de propaganda do Goebels são aceitáveis desde que para defender as suas ideias e projecto político. É um PCP liderado por gente que até tem vergonha de defender o comunismo em público, tentando esconder aquilo que são, entulho do Muro de Berlim, atrás de Abril, um Abril que é dos democratas portugueses e que até os apanhou de surpresa.
Perdi toda a consideração pelo PCP.