O ano de que nos livraremos mais logo foi um mau ano para os portugueses e para a democracia, um ano marcado pela crise económica, pela canalhice política, por golpadas judiciais, por tudo o que não deveria suceder quando o país enfrenta uma grave crise económica e tem poucas soluções para a superar.
Em vez de estarem a discutir soluções para o desemprego as nossas “grandes” cabeças esgotam os seus neurónios a emitir doutos pareceres sobre se as escutas abusivas e ilegais feitas a Sócrates devem ou não ser tema de conversa de varinas. Não se ofendam as varinas que já nem sequer existem, refiro-me às elites da treta deste país que por estarem cada vez mais ricas e nada sofrerem com a crise financeira preferem dedicar-se aos golpes palacianos numa disputa contínua pelo poder.
O maior partido da oposição não resistiu à tentação do oportunismo dos cavaquistas, gente que durante anos se dedicou ao enriquecimento, alguns deles protagonizaram mesmo a maior burla da história de Portugal, em vez de uma liderança à altura do país foram buscar para líder alguém cuja única “qualidade” é ser amiga de Cavaco Silva. O resultado foi o que se viu, um programa zipado, a tentativa de golpada com recurso a manobras conspirativas protagonizadas por um braço direito de Cavaco Silva e uma derrota política nas legislativas.
Agora chegamos ao ridículo de ver a direita do PSD integrar uma “maioria parlamentar” onde o papel de falso primeiro-ministro parece ter sido entregue a Francisco Louçã, tudo isto com o carinho especial de Cavaco Silva pelos entendimentos parlamentares, ele que sempre os desprezou e que ainda há bem pouco tempo vetou diplomas votados por maiorias parlamentares expressivas, até mesmo por votações unânimes.
A política portuguesa transformou-se na arte da canalhice, onde tudo vale, onde um Presidente só sabe dizer que anda preocupado e a justiça decidiu intervir na política um desrespeito grosseiro pelos mais elementares princípios da justiça e da democracia.
Temos uma classe política que não se cansa de verter lágrimas de crocodilo pelos muitos portugueses que estão no desemprego ou que enfrentam graves dificuldades, ou de fazer roteiros da miséria, mas a verdade é que uma boa parte desta gente festejou o estalar da crise, excitaram-se com o aumento dos preços do petróleo e dos produtos alimentares, fizeram uma festa cada vez que os indicadores apontavam para o agravamento da crise internacional. A verdade é que uma boa parte da nossa classe política está mais interessada no seu estatuto, em manter os seus cargos ou em conquistar poder do que na situação dos portugueses, temos uma classe política (sem exclusão de nenhum partido) onde há canalhas a mais.
Portugal termina 2009 afundado numa grave crise económica, sem meios para combater os problemas estruturais da economia, com uma classe política que não está à altura dos problemas que o sistema político enfrenta, com uma justiça transformada em promotora de julgamentos sumários na praça pública, um Presidente muito preocupado como diz, mas com a sua reeleição.
O ano de 2009 foi um dos piores anos da democracia portuguesa não só porque todos percebemos que mais de trinta anos de uma democracia tutelada por grupos corporativos, conduzida por elites oportunistas e gerida por uma classe política cada vez mais canalha conduziram o país a um beco sem saída, sem soluções e sem gente à altura de resolver os problemas, pior ainda, sem lideranças que se preocupem efectivamente com os mais pobres.
2009 foi um mau ano e 2010 não promete nada de bom. Veremos.