Quando alguém se lembrou de falar em Bloco Central ainda antes das legislativas quase ia caindo o Carmo e a Trindade, durante a campanha para as legislativas Manuela Ferreira Leite quase gritava “vade retro, Santanás”, o ódio dos cavaquistas, incluindo o seu alma mater, a José Sócrates era tanto e a certeza de que tudo estava a correr bem era tão grande que quase era crime abordar o assunto. Quase em uníssono os comentadores condenavam o Bloco Central, esquecendo que tal solução salvou o país na falência, apontaram-no como causa de todos os pecados da política.
Entretanto, o tempo foi passando e são cada vez mais os que se lamuriam do suicídio lento do PSD e já se vão ouvindo vozes gradas, até do cavaquismo enriquecido, a falar da necessidade de um Bloco Central, se não uma coligação governamental pelo menos um entendimento parlamentar. Tanta gente preocupada com o país quase me leva a uma crise sentimental, até sinto vontade de dar um abraço a Rui Machete e um beijinho ao presidente da CIP.
Mas porque razão só agora se lembram de defender solução, meses depois das eleições e quando tal é inviável? Tanto quanto sei a Ferreira Leite continua a ser quem sempre foi, o mesmo sucedendo com Louçã, Portas ou Jerónimo de Sousa, o presidente é o mesmo e não houve alteração da distribuição dos deputados no parlamento, até a crise económica é a mesma e o défice orçamental nem sequer se alterou significativamente. Sendo assim e já que estavam tão preocupados com o país porque razão só se manifestam agora, sugerindo-nos favas para depois de almoço?
A verdade é que antes das eleições todos esperavam mais de Manuela Ferreira Leite, sonharam com uma situação em que mesmo que o PSD e o CDS poderiam formar um governo maioritário, embalados pela crise financeira e pela preciosa ajuda do processo Freeport estavam convencidos do regresso da direita ao poder. Depois das eleições lançaram o caso Face Oculta e voltou a fazer-se silêncio na esperança de Sócrates cair.
Mas tudo falhou, o PSD vai definhando com a liderança de Ferreira Leite e sem que se veja uma solução credível para a liderança do PSD, no parlamento os deputados do PSD comportam-se como deputados de uma maioria governamental liderada pelo PSD. Compreendo a preocupação destas personalidades, o PSD caminha para mais uma derrota eleitoral, seja quando forem as .
O que preocupa muito boa gente é a transformação do PSD num partido autárquico, incapaz de conseguir vitórias nas legislativas, isso significa que muito boa gente habituada a ter um acesso fácil à influência do poder está e continuará a estar longe deste conforto. Agora que perderam a esperança de chegar ao poder pela via eleitoral querem-no fazer pela mão do PS, daí o apelo ao Bloco Central.
Quando esteve em causa o país todos disseram não a qualquer solução, agora que o PSD se afunda e as suas elites estão carentes das mordomias do poder já há quem proponha o Bloco Central. Agora, é tarde.
