Neste Natal assistimos, como nunca tinha sucedido nos últimos anos, a um ataque por parte de algumas personalidades da Igreja Católica, aproveitando-se do ambiente proporcionado pelo Natal estas personalidades em vez de promoverem o que de bom têm os valores associados à quadra promoveram um ataque cerrado a todos os que violam os princípios daquele que gostariam de ser uma sharia cristã.
O próprio D. José Policarpo, cardeal patriarca de Lisboa, um bispo que costuma ser inteligente e equilibrado nas suas intervenções e que fez uma mensagem de Natal equilibrada e que poderia ser lida e entendida por qualquer um, não resistiu à tentação de dedicar a sua homilia na missa de Natal para se atirar aos que não partilham das suas convicções, desfez em todos, desde os agnósticos aos ateu, como se ser agnóstico ou ateu neste país fosse merecedor de qualquer reparo, mesmo por um cardeal.
Manuel Martins, o bispo emérito de Setúbal que ficou famoso no tempo do cavaquismo pelas suas preocupações, também não resistiu à tentação de fazer um ataque feroz ao casamento gay, insinuando que a sua aprovação no mês de Dezembro foi uma provocação relacionada com o Natal.
Todos usaram a família até ao enjoo como se o Natal tivesse alguma coisa a ver com o casamento gay ou mesmo com o casamento civil, instituição que a Igreja Católica sempre desvalorizou ou desprezou, havendo ainda muitos padres que não o reconhecem ao recusarem-se a baptizar crianças cujos pais não sejam casados pela Igreja.
No meio de toda esta orgia até Manuela Ferreira Leite fez a sua mensagem de Natal quase decalcada da que tinha feito o ano passado, chegando mesmo a repetir frases e ideias e mais preocupada com o casamento Gay (ela que também se divorciou à margem dos princípios da Igreja Católica) lá disse as suas baboseiras sobre a família, nada mal para quem tem um conceito original de família.
O próprio Cavaco Silva que habitualmente confunde o papel de chefe de família com o de Chefe de Estado lá nos impingiu os seus conceitos religiosos esquecendo que é Presidente de uma República laica e que enquanto tal deve respeitar os muitos portugueses que não partilham do seu fundamentalismo religioso.
É pena que tenham esquecido os valores do Natal, valores que hoje são civilizacionais e aceites universalmente. Ao tentarem usar o Natal como argumento para as suas guerras religiosas apenas deram uma imagem da Igreja Católica muito semelhante àquilo que muitos criticam no islamismo, a intolerância, o fundamentalismo e o desrespeito pelas convicções de cada um.