sábado, dezembro 12, 2009

Umas no cravo e outras tantas na ferradura

FOTO JUMENTO

Loja de vinhos, Cascais

IMAGEN DO DIA

[Reuters]

«Models walk in a lingerie fashion show by Triumph International in Mumbai.» [The Washington Post]

[Amy Sancetta-AP]

«Fawn Man, a bearded collie, runs with handler Greg Strong in the competition ring at the Crown Classic Dog Show in Cleveland, the last big national dog show before the Westminster Show in New York City.» [The Washington Post]

JUMENTO DO DIA

Cavaco Silva

Como era de esperar Cavaco Silva aproveitou o repto que lhe foi lançado para fazer campanha pessoa, recordando-nos os tempos em que governou sem maioria absoluta, outra coisa não seria de esperar pois nem Cavaco está interessado em instabilidade, nem consegue colocar os interesses do país à frente da sua campanha presidencial. Cavaco Silva está em campanha para ser reeleito desde o dia que tomou posse.

Só que ao lembrar o seu governo esqueceu-se de muita coisa, o líder da oposição não era uma senhora sem dimensão e que actua motivada pela raiva, não teve de enfrentar alianças entre um partido de direita e a extrema-esquerda e, tanto quanto me recordo, a oposição não se coligou para usar os poderes do parlamento para se substituir ao governo. Além disso tinha como Presidente Ramalho Eanes, um homem cujos assessores nunca ultrapassaram os limites nem se envolveram em conspirações golpistas. Se Portugal tivesse agora um Presidente como o que Cavaco teve não contar com uma maioria absoluta não seria um grande problema.

UM POST DO VISITANTE BETTENCOURT DE LIMA

«Do alto do monte – Conto de Natal

... Pacheco deixa arrastar a âncora, perde o norte e encalha. Com a água pelo pescoço, agita-se freneticamente, mas não pede ajuda. Da sua boca, houve-se, disparadas, as palavras: «....Sócrates maldito... Corrupt… Soc.... glu.... glu.... gl....». Depois, silêncio. Do alto do monte, o velho assiste à cena e abana a cabeça. Um pensamento, todavia, absorve-o... nunca mais acabam com a publicidade no canal público… «Comenda!!!», berra, olhando ligeiramente por cima do ombro. O fiel amigo, ouvindo a voz do dono, aproxima-se correndo nas quatro patas e agitando a cauda num frenesim. O velho pousa a mão direita sobre a cabeça do cão e faz-lhe distraidamente uma festa. «Comenda...» diz novamente... … agora que a golden share vai à vida, o Belmiro pode outra vez tentar vender aquilo aos bocados e fazer uma pipa de massa,» e conclui com tristeza... «O país afunda-se». O rafeiro desanimado volta a deitar-se em cima do jornal. O velho cogita. A vida passou depressa. Como num filme agitado, imagens apressadas percorrem-lhe o pensamento. Olha novamente para o sítio onde desaparecera Pacheco. Nunca gostara muito dele. A situação piorara depois daquela insistência obsessiva com que alimentara os ódios dela e a conduziu àquela derrota estrondosa. Olhou demoradamente para o mastro que boiava no sítio do naufrágio. Julgou ver um objecto que emergia. Semicerrou os olhos, concentrando-se na imagem. Pareceu-lhe ver um dedo espetado, depois um punho e, finalmente, o corpo de Pacheco emerge de rompante à superfície separando as águas com estrondo. O mar devolvia Pacheco à vida. Os pulmões de Pacheco congestionados recusam-se a aceitar o sopro da vida. Pacheco estrebucha e consegue, num ronco cavo, começar a respirar. Os olhos arregalados percorrem a costa em redor, ávidos de vida. De repente, Pacheco avista o velho no alto do monte, e, na sua agitação, confunde-o com Deus. Não era Deus, longe disso, mas, para Pacheco, aqueles cabelos desgrenhados e a cara bexigosa personificavam o Criador e o milagre do seu regresso à vida. O mastro arrastado pela corrente dá à costa e, com ele, Pacheco. Sentindo terra firme, Pacheco beija a rocha e enterra fundo as mãos na areia. De repente, ouve uma voz. Era uma voz sem som, que se lhe cravava no cérebro. Uma voz simultaneamente maternal e paternal, que lhe fazia lembrar recordações de infância. Maternal porque o aconchegava, o acarinhava e lhe dava segurança. Paternal porque se tornava rapidamente exigente, não lhe dava espaço para solilóquios e o encurralava. Esta era mesmo a voz de Deus. “Pacheco”, disse a Voz, “Eu amo todas as coisas, vivas ou inertes. A uma espécie dei consciência e responsabilidade. Nesta espécie não dei a todos as mesmas condições de vida. Tu nasceste privilegiado, com carinho, bens materiais e numa família de antigas tradições. Cresceste e fizeste-te homem. No meio onde vives, foste considerado e admirado por fazeres muitas concessões à liberdade de pensamento e, fartas vezes, sorri quando abocanhavas aquele teu correligionário mulherengo.” Mas”, continuou a voz, “algo explodiu dentro de ti e, de repente, dei contigo a vociferar, escumar e arrastar a barriga pela lama. Pacheco, Eu não te fiz réptil! Devolvi-te a vida. Sê Homem.” Pacheco chorou primeiro silenciosamente, depois convulsivamente, mas o rosto resplandecia. O choro era de alegria, e murmurou: “Deus é grande”. E, na costa, vinda não se sabe de onde, espraia-se a Ode à Alegria do compositor surdo.

Bettencourt de Lima»

CUSPIR NO PRATO ONDE SE COME

Rui Hebron coloca n'"A Escada de Pensroe" um post que é quase um manifesto anti-cuspo, só peca por colocar a imagem de um escarrador pois aquilo a que assitsimos neste país é muita gente a escarrar no prato onde come, gente que enriqueceu à custa dos portugueses sem terem dado nada ao país e que agora se sentem grandes demais só porque os portugueses não elegem os governantes que lhes iria servir a sobremesa.

Vale a pena ler o post "Não digas. Não cuspas...":

«É talvez uma das notas do provincianismo português, que já Pessoa detectava nos basbaques que se maravilhavam de boca aberta das monumentalidades alheias. O sentido pacóvio dos espantos alarga-se muitas vezes à ideia do país como uma espécie de fatalidade do mal, onde só o que é pulha triunfa. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. É verdade que esse traço persistente de desvalorizar tudo à nossa volta, essa menorização do país, essa ideia de que tudo o que é nacional é mau, refinou-se de forma surpreendente. Alguns por puro analfabetismo, outros por sobranceria intelectual, outros ainda por um sentimento de inveja (visível, apesar de disfarçado), dão curso a essa retórica pacóvia e vazia de apoucamento. Parece que não gostam do sol, nem do mar, abominam a realidade e inventam universos em que, provavelmente, eles são reis e felizes na doce ilusão de um paraíso perdido para consumo próprio. Muitos deles têm responsabilidades no estado a que chegámos, mas falam como se jamais tivessem posto a mão na coisa pública. Dizem nada aos costumes. É um discurso que rende, geralmente associado a um catastrofismo idiota, apaniguados do quanto pior melhor, trampolim para a glória dos painéis de comentadores de televisão (sempre os mesmos, claro) ou para colunas de cátedra de jornais onde destilam venenos (Vasco Pulido Valente) e dilúvios (Medina Carreira). Também ilustres milionários, que dilataram cifrões à sombra do Estado, à mínima beliscadela nos seus interesses logo se apressam a ameaçar com a ida para o estrangeiro.

Ainda a semana passada, Vasco Graça Moura retomava o seu registo apocalíptico da actualidade: ele só vê porcaria na banda dos socialistas, que derrotaram por voto popular o partido em que milita VGM e de onde, por sinal, tantas porcarias têm emergido (basta lembrarmo-nos dos figurões do BPN). Mas essas serão porcarias quimicamente puras… «O país votou nessa cambada. O país prefere a porcaria. Já está formatado para viver nela e com ela», escreve Graça Moura. Faziam bem, ele e os outros arautos que gostam de parir ideias abaixo de zero, em parar um pouco para lerem um aviso de Virgílio Ferreira (Escrever, página 215), que aqui com gosto e a custo zero lhes ofereço: «Não digas. Não digas mal do país, ou seja, de ti. Terás talvez a ideia de que o dizeres mal te separa do resto e te alça a ti a uma posição altaneira. Não penses. Fazes parte daquilo em que cospes, és pertença dessa sujidade. A grandeza de uma ofensa tem que ver com ela própria. A grandeza do cuspo é o escarrador que és tu. Aprende o orgulho de ti na grandeza ou na miséria. E se queres condenar a miséria que também é tua, fala um pouco grosso que não te fica mal. Podes talvez lamentar mas não escarnecer. Se cospes tornas visível o cuspo naquilo em que cuspiste. Como queres que os outros te respeitem se tu mesmo não o fizeres? Para o lixo há recipientes apropriados em que esse lixo não se vê. Não cuspas mais no país para que os outros não se enojem do cuspo em que revelas a terra que é tua e que, portanto, és tu». Não digas. Não cuspas...»

Sobre Vasco Graça Moura que perante a falta de escarrador parece optar por escarrar nos seus artigos do DN vou contar aqui uma história. Em tempos ele foi o responsável pela segurança social numa mesma altura em que um amigo meu era director dos serviços em Bragança. Esse meu amigo veio a Lisboa reunir com o VGM e tudo correu na maior normalidade, só que quando chegou a Bragança no seu lugar já estava um homem da confiança de VGM.

Passados muitos anos o VGM voltou a encontrar-se com esse meu amigo numa qualquer cerimónia, não reparando que estava a falar com o director de Bragança que ele tinha demitido sem ter tido a dignidade de o informar na reunião que teve com ele no mesmo dia em que o substituiu. Mas como cá se fazem, cá se pagam desta vez tinha sido o VGM a ser demitido da Comissão para os Descobrimentos Portugueses, lamuriava-se de que o tinha sabido pela comunicação social.

A vida tem destas partidas e perante o choradinho do VGM esse meu amigo, num gesto de pena, disse-lhe que compreendia muito bem o que lhe estava a suceder, há muitos anos, quando era director em Bragança, tinham-lhe feito o mesmo. Só nesse momento o VGM percebeu que se estava a queixar a quem tinha demitido em condições ainda mais indignas do que supostamente tinha acontecido consigo.

VFM tem toda a razão, neste país há mesmo muita porcaria e, pior do que isso, há porcaria como ele quem nem sequer é reciclável, é mesmo porcaria.

O PSD ESTÁ A VENCER NO CAMPEONATO DA CORRUPÇÃO

Se considerarmos o que se tem passado nos últimos cinco anos o PSD está a ganhar o campeonato da corrupção ao PS, está a suceder com a corrupção o mesmo que acontece com a bola, o Porto e o Sporting bem podem ganhar os jogos e o Benfica perder que a capa do jornal A Bola destaca o Benfica, é quem mais vende.

Se considerarmos apenas as acusações o PSD marcou nos financiamentos ilegais que recebeu da Somague, no caso BPN, no edifício dos CTT e no autarca de Oeiras, enquanto o PS apenas marcou através de Fátima Felgueiras. Mas se considerarmos apenas as condenações o PSD está a ganhar por dois a zero, pois Fátima Felgueiras escapou-se e o caso CTT ainda não foi a julgamento.

Compreendo porque razão o PSD está tão empenhado em combater a corrupção, envolvido em escândalos como a compra de votos para ajudar a eleger líderes como muito provavelmente terá sucedido com a Manuela Ferreira Leite, com a sua velha guarda cavaquista cheia de dinheiro e com os seus jovens tigres a receberem sacos de dinheiro dos industriais das inspecções automóveis a corrupção está no seu DNA. Combatê-la é uma condição necessária para fazer renascer o partido.

Mas o PSD prestaria um serviço maior ao país se em vez de propor alterações legislativas procedesse a uma limpeza dos seus quadros, de nada serve propor tais medidas quando as suas listas pareciam uma sala de espera de um tribunal penal.

UMA PERGUNTA A MANUEL ALEGRE

É este o BE que Manuel Alegre nos queria impingir com as suas reuniões da esquerda?

BISPOS 1, ESTADO LAICO 0

«Em Setembro de 2007, rebentou a guerra das capelanias. Nunca se viu tal ira na prelatura católica. Qual aborto, qual casamento de pessoas do mesmo sexo: nada foi capaz de levantar os bispos como um pré-diploma do Ministério da Saúde, então liderado por Correia de Campos, que, segundo eles, "retirava aos doentes o direito à assistência religiosa", era "um ataque aos mais pobres dos pobres" e seria até, asseveravam, "inconstitucional". Porquê? Porque, garantiam, passava a ser obrigatório solicitar a assistência religiosa por escrito e apenas na admissão no hospital, e esta era restringida às horas das visitas. Com base nesta versão, choveram as críticas: o governo jacobino queria acabar com a religião, roubar aos doentes o seu único consolo, negar a extrema-unção aos moribundos.

Quando o diploma apareceu nos jornais, porém, as alegações dos bispos provaram ser falsas: os assistentes religiosos podiam ter acesso aos doentes a qualquer hora, desde que autorizados para o efeito (tanto pelo doente como pela unidade de saúde) e a solicitação de assistência religiosa podia ser efectuada a qualquer altura do internamento. As razões de queixa da hierarquia católica eram outras: ao colocar a assistência religiosa de acordo com a lei da liberdade religiosa de 2001, que prevê, de acordo com a Constituição (de 1976!), a igualdade religiosa, o diploma retirava aos ministros católicos o monopólio desse serviço. Os capelães existentes - todos católicos - permaneceriam nos hospitais, como funcionários públicos que são (por via da Concordata salazarista de 1940, extinta pela de 2004), até à reforma, mas não haveria mais contratações; os assistentes religiosos de todas as confissões teriam igual acesso aos pacientes e seriam pagos de acordo com a mesma tabela e critérios em regime de prestação de serviço. » [Diário de Notícias]

Parecer:

Por Fernanda Câncio.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

MAIS UMA DERROTA DA SUPER-PROCURADORA

«O Tribunal da Relação do Porto rejeitou os três recursos do Ministério Público e confirmou a absolvição de Pinto da Costa, e restantes arguidos, no caso do envelope, um dos processos conexos com o Apito Dourado.

Segundo o acórdão a que a Agência Lusa teve acesso, a Relação rejeitou as alegações do Ministério Público, encerrando assim, no que à matéria de facto diz respeito, as acusações contra Pinto da Costa, presidente do FC Porto.» [Diário de Notícias]

Parecer:

Depois a culpa é das leis...

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Faça-se as contas a quanto é que o MP já gastou no caso Apito Dourado.»

UM PROCESSO DE GENTE FINA

«O Ministério Público (MP) acusou 16 arguidos do inquérito relacionado com actos de gestão dos CTT entre os anos de 2002 e 2005, quando a administração da empresa era liderada por Carlos Horta e Costa. O gestor é acusado da prática de sete crimes (um de administração danosa e seis de participação económica em negócio). Em causa estão crimes que geraram prejuízos de 13,5 milhões de euros, segundo a acusação.

Os magistrados arquivaram os crimes de prevaricação em que estavam indiciados autarcas de Coimbra, entre eles o presidente da câmara, Carlos Encarnação, e ilibaram de responsabilidades criminais membros do conselho de administração dos CTT.

Além de Horta e Costa, o MP acusou dois ex-administradores dos correios, Manuel Baptista e Gonçalo Ferreira da Rocha. A Baptista imputou cinco crimes de participação económica em negócio e um de administração danosa, ao passo que Rocha está acusado por um crime de corrupção passiva para acto ilícito e outro de administração danosa. Para os três ex-gestores dos CTT, o MP propõe a pena acessória de proibição do exercício de funções como titular de cargo público.» [Público]

Parecer:

No caso CTT o Ministério Público mostrou que quando os seus magistrados querem até conseguem evitar grandes fugas ao segredo de justiça e a condenação antecipada dos arguidos na praça pública. Terão os magistrados sido escolhidos criteriosamente para evitar oi espectáculo a que estamos habituados ou quando está em causa gente fina do PSD os métodos são outros? Se Carlos Encarnação, autarca de Coimbra, fosse amigo íntimo ou primo de Sócrates teria sido ilibado e poupado ao escândalo?

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se ao Procurador-Geral da República, apesar das respostas serem óbvias.»

NO "DA LITERATURA"

"Gente fina é outra coisa":

«No âmbito do Caso CTT, o Ministério Público acusou 16 pessoas de gestão danosa, branqueamento, participação económica em negócio e outros crimes. Em português: acusou-os de corrupção. Em causa, a venda de dois edifícios, um em Lisboa, outro em Coimbra. Prejuízo: 13,5 milhões de euros.

Um desses 16 arguidos chama-se Carlos Horta e Costa. Foi secretário-geral do PSD durante a presidência de Marcelo Rebelo de Sousa. Foi nomeado presidente dos CTT em 2002, por decisão de Durão Barroso. Mas como, ao contrário de Armando Vara, Carlos Horta e Costa não nasceu em Vilar de Ossos, nem foi caixa de banco, nem almoça (I Presume!) com sucateiros, os media tratam-no como deviam tratar toda a gente: com respeito. Nada contra.

Lembrar a quem não se lembra: os edifícios em pauta foram vendidos sem concurso público, por decisão de Manuela Ferreira Leite, então ministra das Finanças. O de Lisboa estava avaliado em 20 milhões de euros, mas foi vendido por 12,5 milhões (o governo de Barroso queria receitas extraordinárias); o de Coimbra, que se vê na imagem, estava avaliado em 28,4 milhões de euros quando foi vendido duas vezes no mesmo dia: de manhã por 14,8 milhões, à tarde por 20 milhões. Quem denunciou a banhada foi o advogado António Marinho Pinto.

Aguardar as reacções indignadas (e os trocadilhos) dos bloggers da direita e dos articulistas anti-corrupção.»

ROBERT MINNICK

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