Só é pena que este amor às criancinhas, o apego à vida, o apoio às mães adolescentes e muitas outras preocupações sociais da nossa direita seja intermitente, só se manifeste quando surgem confrontos em torno da alteração do status quo jurídico herdade dos tempos em que Portugal vivia feliz, as normas e os hábitos estavam de acordo com os bons princípios.
Nos últimos tempos temos assistido à luta de uma adolescente por criar um filho que a justiça já tinha dado para adopção, fez greve de fome aporta do tribunal, conseguiu inverter a decisão, ser autorizada a ver o filho, por fim o tribunal decidiu entregar o filho aos cuidados da família materna. Onde estavam os defensores da vida, a ex-primeiras-damas, as senhoras de bem tão dedicadas à catequese? Eu digo-vos, estavam a planear as próximas férias à República Dominicana, a ler a Hola, a comprar revistas de moda para planear as mudanças do guarda-roupa. Também vos digo onde não estavam, não estavam a apoiar a mãe do Martim como tanto prometeram ao tentar enganar os portugueses levando-os a votar contra a despenalização da interrupção voluntária da gravidez.
O país tem dezenas de instituições para onde são atiradas crianças abandonadas ou retiradas às famílias pelos tribunais, umas estão à espera da adopção como se fossem animais num redil, outras aguardam anos e anos por que os senhores magistrados tenham tempo e pachorra para decidir o seu futuro, algumas têm sorte, principalmente as bonitas elourinhas, têm a sorte de serem adoptados.
Alguém se preocupa com a educação dessas crianças, com os abusos de que são alvo e que de vez em quando são notícia nos jornais, alguém questiona se o ambiente nessas instituições se aproxima de o de uma família e de que tipo de Família? Eu digo-vos, para além dos voluntários as nossas boas almas da direita nunca se preocupam com o assunto, o Paulo Portas e os outros estão mais preocupados em livrar empresários sem escrúpulos de pagar contribuições sociais, estão mais empenhados em se juntarem ao Bloco de Esquerda para suspenderem o código contributivo, do que em saber se essas crianças são melhor educadas do que se adoptadas por um casal gay.
Não partilho inteiramente da posição das associações de gays e lésbicas, mas o debate a que estou a assistir enoja-me, aparece gente que nunca vi em lado nenhum muito preocupada com as criancinhas a que ligam tanto como as associações anti-aborto ligaram à mãe do Martim.