Educado no catolicismo, com vários sacramentos no currículo, o Natal da minha infância significava o nascimento do menino Jesus, na época eram raras as árvores de Natal, a regra era montar o presépio. A prenda surgia magicamente no sapatinho na manhã do dia 25, ainda que a magia nunca tenha conseguido grande coisa em matéria de prendas, digamos que o sapatinho não tinha grande espaço.
Do outro lado do Guadiana as prendas vinham mais tarde, quando os bombons do sapatinho já estavam comidos começavam as vagas de publicidades de brinquedos na TVE. Graças à costela espanhola ainda tinha direito a uma prenda simbólica do Dia de Reis.
Só mais tarde o Pai Natal entrou em cena, primeiro começou a razia dos pinheiros, mais tarde foram adoptadas as árvores sintéticas. O complexo de muito boa gente em relação à sua formação católica e um marketing empenhado em não deixar consumidores de fora levou a que a imagem do Pai Natal se tenha imposto, reservando os presépios para as capelas.
Hipocritamente todos festejam o Natal, há por aí muito boa gente da extrema-esquerda que se tornou adoradora do barbudo que vem da Finlândia com as suas renas, esquecem que o barbudo é uma invenção do marketing da Coca-Cola e que representa um santo, isto é, têm vergonha do Menino Jesus e das suas origens culturais e acabam por abraçar um outro santo, ainda por cima embrulhado pelo símbolo do “imperialismo”. Nem sequer se dão ao trabalho de sugerir que as renas sejam substituídas por burros brancos, o que estaria mais de acordo com os seus princípios e, nalguns casos, com a sua postura.
Ainda que tenha arrumado o meu currículo sacramental e deixado de crer em entidades divinas, sejam as da Igreja ou os líderes do proletariado, assumo a meu legado cultural e assisto com algum humor à muita hipocrisia a que por estes dias vou assistindo.
Eu não sei o que cada visitante d’O Jumento pensa do Natal, mas sei que ao desejar-lhes um Bom Natal vão entender isso como o meu desejo de que na família que escolheram ter e no círculo de amigos que souberam construir estes dias sejam de fraternidade, de solidariedade e até de reflexão sobre a nossa condição de humanos.
Para todos, até para os mais envergonhados e mesmo complexados com as suas origens culturais, o meu desejo de um Bom Natal. Que tenham muitas prendas, independentemente da entidade que escolheram para dador.