Quem pretende destruir uma democracia tenta lançar o descrédito nas instituições democráticas e nos políticos eleitos, as primeiras são desnecessárias, os segundos são inúteis, incompetentes, corruptos e desnecessários. Em sua substituição propõe-se uma entidade acima de suspeitas, pura e casta dos males da democracia, nuns casos são uma qualquer casta que se julga acima dos males da sociedade, em regra um grupo corporativo com hábitos castrenses. Noutros casos surgem os partidos puros onde militam gente pura e honesta, acima dos males do mundo.
Já quanto à metodologia para lançar um golpe de Estado as tácticas mudam, os coronéis da América Latina resolvem o problema ao tiro, os fascistas europeus eliminaram as instituições democráticas por organizações corporativas supostamente preocupadas com o bem comum, os maoistas lançaram o livros de citações de Mao para ensinarem os revolucionários de todo o mundo a conquistarem o poder, os comunistas europeus elevaram o leninismo a teoria científica da conquista do poder. Mais recentemente surgiram alguns candidatos a ditadores que recorrem ao referendo como solução para contornarem ou eliminarem os mecanismos constitucionais que constituem obstáculos ao poder autocrático.
As ditaduras existem porque há quem considere que as suas ideias são superiores mas que por não serem compreendidas pelo povo não são as escolhidas para decidirem o futuro do país. Não faltam por aí incompreendidos, desde ex-dirigentes do MRPP que não se cansam de lutar contra os moinhos que ele próprio elege ao Medina Carreira que desde há vinte anos que que assegura que o país irá à falência no ano seguinte, sem esquecer o Jerónimo de Sousa ou o Francisco Louçã que estão convencidos de que têm solução para todos os males da sociedade.
Nos últimos tempos surgiu uma nova estratégia, talvez porque as últimas eleições legislativas foi uma desilusão para os que estavam convencidos de que um primeiro-ministro não escaparia a tanta desgraça pessoal, nacional e internacional, desde vagas sucessivas de difamação e suspeitas pessoais, a boicotes e manifestação até à maior crise financeira internacional de que há memória.
Afinal o o caso Freeport não foi suficiente para destruir a credibilidade do poder eleito democraticamente, era necessário aumentar a dose e eis que ela aparece logo a seguir, nem se preocuparam com o facto de a Constituição impedir que o país vá a votos nos próximos meses. Como os nossos militares aprenderam as regras democráticas porque foram eles próprios que as introduziram no país foi necessário que outras vacas sagradas tenham decidido intervir usando a sua suposta superioridade moral para higienizar o país dos políticos que eles consideram que devem ser eliminados.
O que muita gente anda a fazer é asfixiar a democracia, tentando eliminar adversários políticos recorrendo à difamação ou, pior ainda, lançando o descrédito nas instituições eleitas e nos que são eleitos. Pouco importa o estado do país, as adversidades económicas que enfrenta, o que importa a esta gente é conquistar o poder a qualquer custo, nem que isso signifique destruir a democracia.