Disseram-nos que ser bons alunos era construir auto-estradas que permitissem aos camiões transportar rapidamente os produtos que importamos e foi o que fizemos, pode-se chegar a Espanha num instante, a mesma Espanha que poucos anos antes evitava construir infra-estruturas rodoviárias que facilitassem o acesso à fronteira portuguesa.
Disseram-nos que ser bons alunos implicava liberalizar mercados onde haviam monopólios públicos e apressámo-nos a privatizar as empresas públicas mesmo sabendo que uma boa parte do capital dessas empresas seria adquirido por investidores estrangeiros o que colocaria sectores estratégicos para a economia nacional a serem geridos em função dos interesse de accionistas cujo único critério é o da oportunidade bolsista.
Disseram-nos que para sermos bons alunos só poderíamos embalar fruta bonitinha e toda do mesmo tamanho e assim fizemos, abandonámos as variedades genéticas nacionais, muitas delas extintas ou em vias de extinção para passarmos a comprar sementes e plantas que dão frutos muito bonitinhos, calibrados mas sem sabor, em nome da qualidade passámos a comer feijão verde com sabor a relva e sem sumo.
Disseram-nos que para sermos bons alunos teríamos de ser muito limpinhos e o Sr. António Nunes mandou os seus ninjas encerrar todos os negócios que não fossem limpinhos e pôr termo a todas as tradições que violassem os critérios de higiene definidos pelos insípidos burocratas de Bruxelas. Acabou-se a matança do porco, em troca compramos grandes pacotes de costeletas de porco espanholas embaladas em mega embalagens familiares.
Disseram-nos que para sermos bons alunos deveríamos implementar um plano de austeridade sempre que o comissário Joaquín Almunia acordar mal disposto e é o que temos feito, sempre que o comissário franze o sobrolho aumentamos os impostos ou tramamos os funcionários públicos.
Fomos tão bons alunos que até tivemos direito ao nome no quadro de honra para orgulho de Cavaco Silva, o problema é que somos bons alunos tesos, sem capacidade de intervenção na nossa economia e proibidos de intervir em função de objectivos estratégicos nacionais. Os objectivos do país, dizem-nos pessoas como Pedro Passos Coelho, devem ser os definidos pelos mercados, o bem-estar das nossas populações não deve depender do Estado Social mas sim aferido pelos lucros das empresas amigas que devem substituir o Estado.
Esta do bom aluno lembra-me uma velha anedota, uma comadre tinha uma amiga que andava com amantes ricos e lhe exibia os carros, casacos de peles e outros luxos que lhe ofereciam os amantes ricos, até que a outra se queixou que o padre Zé só lhe dava santinhos. Neste processo de integração europeia Portugal faz o papel da nossa amiga, somos bons alunos mas na hora de distribuir a imensa riqueza gerada pelo processo de integração europeia só levamos santinhos, no fim até nos dizem que é por sermos parvos, por não termos sabido aproveitar as oportunidades, até temos por aí uns artistas que andaram anos a ver a forma como poderiam enriquecer à custa da miséria alheira e agora acusam o país de não ter feito o trabalho de casa. Isto é, fizemos tudo em nome dos mercados mas o resultado não dependia das aulas mas sim do TPC.
Afinal não fomos bons alunos, esquecemo-nos de fazer os TPC.