Só que as sondagens são uma coisa e as eleições são outras, a agenda política e a crise financeira internacional impedem eleições agora e a economia tem os seus ciclos, umas vezes desce e favorece Passos Coelho, outras vezes sobre e favore Sócrates, o líder do PSD que faz passar a mensagem de que foi o melhor aluno num curso de economia (ainda que de uma universidade do tipo fast-food) parece ter esquecido este pormenor. Convencido da vitória certa achou que era a sua hora de se afirmar e desde então só fez disparates.
Embrulhou-se nas SCUT onde umas vezes diz que não há SCUT para ninguém, outras diz que devem ser para todos e por fim vota ao lado da esquerda conservadora só com o objectivo de criar dificuldadades à governação. Compreende-se, qualquer regra prejudicaria alguns concelhos geridos pelo PSD e como não é possivel dizer na lei que se deverão manter as SCUT sempre que estejam em causa autarquias do seu partido, Pedro Passos Coelho opta pela indecisão. Enfim, um mau princípio este de querer governar e ao mesmo tempo promover o desgoverno.
Numa decisão criticada por toda a sociedade, incluindo muito dos seus apoiantes incondicionais, optou por lançar a revisão constitucional em Setembro, avançando com um projecto mal elaborado, feito por gente que vive noutro país e que nunca será aceite pelos outros partidos ou mesmo pela sociedade. Numa estratégia combinada à mesa do café, Pedro Passos Coelho acha que pode impor uma nova constituição a troco de um orçamento que até pode ser viabilizado por partidos que não alinham no seu projecto.
O ideal para Passos Coelho era que o PS se armasse em conservado e decidisse boicotar a revisão constitucional, o líder do PSD poderia dizer o que já anda a sugerir, que os outros partidos se recusam a modernizar o país. Mas tem azar, o PS vai a jogo e responde com propostas de revisão incómodas porque mexem nos poderes presidenciais, um tabu mesmo para o PSD em tempo de presidenciais. Ainda por cima Passos Coelho não pode recusar o debate pois tomou ele próprio a iniciativa de questionar os poderes presidenciais sem repseitar o mandato do presidente que apoia, mas nunca se perdeu de amores pelo antigo líder da JSD.
Ao forçar o debate o PS obriga o PSD a discutir temas que lhe serão incómodos, como a questão do despedimento ou as mexidas num sistema nacional de saúde aceite pelo país. O mesmo líder que há pouco tempo boicotou as taxas moderadoras nas cirurgias não tem autoridade moral para agora tentar privatizar tudo o que na saúde pode dar lucro ao grupo Mello, o mesmo líder partidário que se afirma como esperança para os desempregados não pode empenhar-se em abrir a porta ao desemprego.
Pedro Passos Coelho confunde um país com uma associação de estudante e decidiu, aconselhado por gente de pouca dimensão intelectual, entrar em jogadas que lhe poderão sair caras. Agora vai mesmo ter de concretizar os seus projectos liberais em sectores tão sensíveis como a saúde e o desemprego. Pedro Passos Coelho estava tão convencido do xeque-mate que corre um sério risco de ter entregue a dama. Isso não significa que tenha perdio o jogo, ainda pode empatar ou ganhar com mais dificuldades, significa apenas de que agora é ele que poderá ter de se remeter à defensiva, pois deu a iniciativa no jogo ao adversário e no xadrez a iniciativa pode ser uma vantagem.
Sócrates não é propriamente um político fraco, sobreviveu ao que nenhum político português teria sobrevivido e, pior ainda, já demonstrou que é nos momentos difíceis que se apresenta em melhor forma. Aquilo que parecia um passeio de Pedro Passos Coelho até ao poder pode vir a transformar-se numa penosa via sacra.