Agora que na Itália e Grécia tanto se fala da venda das ilhas para reduzir os respectivos défices públicos não seria má ideia pensar em tal solução e não estou com isto a fazer uma provocação a Alberto João, até que se alguém aceitasse vender a Madeira poria como condição que os membros do governo regional retornassem ao Continente. Com algum jeito bastaria vender as Berlengas e, eventualmente, a Ilha do Pessegueiro a bom preço para resolver o problema.
Com a solução que proponho nem sequer seria necessário transformar um qualquer penhasco em golden share pois as ilhas continuariam a ser nossas, bem mais portuguesas do que as grandes empresas portuguesas que tanto defendemos. Além de mantermos as Berlengas nas nossas mãos, ainda criaríamos uma dúzia de bons empregos, com direito a carro de serviço e cartão de crédito. Como é que conseguimos esse milagre? É fácil.
O Estado começa por constituir uma empresa de capitais públicas que se pode chamar Berlengas SA, com umas centenas de milhares de euros de capital há dinheiro para contratar uns afilhados para cargos dirigentes e adquirir as respectivas viaturas em leasing, que depois de pagas reverterão a favor dos administradores a título de prémio de desempenho. Beneficiando das garantias estatais a empresa consegue crédito para as suas operações financeiras e compra as Berlengas ao Estado por quatro ou cinco mil milhões de euros que entram na receita do Estado e cobrem o défice público. Depois o Estado vai alugar à Berlengas SA o terreno ocupado pelo farol e com essa renda cobre o serviço da dívida, os ordenados e mordomias dos seus administradores.
Não vou ganhar nenhum prémio Nobel da economia porque não fui eu que inventei tão brilhante solução, é assim que muitos ministros das finanças dos países europeus se têm enganado a si próprios. O último a fazê-lo foi o nosso brilhante Teixeira dos Santos que de uma vez vendeu as instalações da DGCI. É de calcular que a seguir vai vender tudo e mais alguma coisa usando o mesmo expediente, uma versão imobiliária da famosa venda das dívidas ao fisco promovida por Manuela Ferreira Leite.
Só que uma coisa é corrigir o défice na perspectiva das regras europeias e outra é reduzir o défice público equilibrando as despesas com as receitas e acontece com o défice público o mesmo que se passa com a sujidade nas paredes, como se dizia num famoso spot publicitário de uma conhecida marca de detergentes “o algodão não engana”. O défice desaparece mas a verdade é que a economia nada ganha com isso, pior ainda, graças a estes truques estatísticos os governos podem aumentar a despesa iludindo os eleitores até ao dia em que a economia deixa de ser capaz de criar a riqueza necessária para criar emprego para as novas gerações, suportar os custos dos Estado e financiar novos investimentos.
É tempo de pôr fim a esta economia da mentira, de ter ministros das Finanças a sério (que saudades tenho do Professor Sousa Franco!) em vez dos pequenos ilusionistas das contas que conduziram a Europa a uma profunda crise financeira da qual poderá sair, mas dificilmente em condições para proporcionar aos europeus as perspectivas que tinham ainda há bem pouco tempo.