quarta-feira, julho 21, 2010

Tempos de arrependimento

As propostas de Pedro Passos Coelho (que só Deus saberá de quem serão mesmo) tiveram o condão de ensinar à esquerda conservadora o que é mesmo um governo de direita, andaram a colar a imagem ao governo de Sócrates e agora levam com uma proposta de revisão constitucional e algumas propostas avulsas que quase transformam José Sócrates num adepto do Bloco de Esquerda.

Qualquer flexibilização das regras do mercado de trabalho era uma política de direita? Pois agora levam com uma proposta de alteração da legislação que torna o despedimento num acto de gestão corrente das empresas.

Andaram a juntar-se à direita para acabar com as taxas nas cirurgias? Pois agora levam com uma proposta de alteração constitucional que transforma o SNS num sistema de saúde que é gratuito para indigentes enquanto os impostos financiam o grupo Mello através das deduções das despesas de saúde.

Brincaram com as votações parlamentares e nem se deram ao trabalho de negociar o programa de governo? Pois agora levam com uma proposta de revisão constitucional que adopta o SIMPLEX em matéria de dissolução do parlamento, o PSD propõe a moção de derrube do governo na hora.

É evidente que muito brevemente a esquerda conservadora vai reparar que aqueles deputados com do outro lado do hemiciclo a que se juntaram em numerosas votações parlamentares, até se juntaram a eles na comissão de inquérito emprestando-lhes um relator histérico, são deputados da direita, deputados escolhidos por Manuela Ferreira Leite e Paulo Portas, muitos deles só desdenhariam o regresso ao passado porque, apesar de tudo, já dependem financeiramente da União Europeia.

Pois é, os tais camaradas a que se têm associado para boicotar muitas das medidas do governo, muitas vezes só para dar ao país a imagem da ingovernabilidade, não são da esquerda moderna, da esquerda progressista, ou de qualquer uma dessas esquerdas idílicas, são mesmo de direita. E agora querem acabar-lhes de vez com as bandeiras que tanto têm desfraldado para acusar o governo de Sócrates de direita.

Se queriam uma mudança aí a têm, não se preocupem, é protagonizada pelos deputados a que se têm aliado numerosas vezes nos últimos seis meses. Até poderiam juntar-se a eles e apresentar uma moção de censura, sempre é mais prático e fácil do que promover mais uma comissão parlamentar de inquérito.

Da parte que me toca nunca me sujtarei a vocês para combater o projecto de Pedro Passos Coelho, fá-lo-ei porque não acredito nele, mas que vocês o merecem, lá isso merecem. Até podem armar-se em líderes do combate à direita, mas a verdade é que não têm passado de criadas de quarto dessa direita que dizem combater.