quarta-feira, julho 07, 2010

Umas no cravo e outras na ferradura

FOTO JUMENTO

Janela do Palácio dos Marqueses de Fronteira, Lisboa

JUMENTO DO DIA

Teixeira dos Santos, minsitro das Finanças

Como qualquer ministro das Finanças que se preze Teixeira dos Santos vai reduzir o défice orçamental, para além de cortar nos pobres e ir simbolicamente ao bolso de alguns ricos que ainda declaram rendimentos, o ministro encontrou uma forma brilhante de reduzir o défice. O mais curioso é que nem reduz a despesa, nem aumenta os impostos, inventa receita.

Se de um ponto de vista contabilístico há uma redução do défice, de um ponto de vista económico não há qualquer redução e com a economia sucede o mesmo que com os detergentes, o algodão não engana. O problema do défice não é apenas estatístico, se assim fosse estaria resolvido, é também económico e uma boa parte dos problemas que a Europa está a enfrentar resulta precisamente da criatividade contabilística dos governantes europeus.

O que o ministro das Finanças está na verdade a fazer não é reduzir o défice, é promover a economia da mentira.

«A Direcção-Geral de Impostos (DGCI) vai vender um conjunto de mais de 100 imóveis onde se encontram instalados os serviços da máquina tributária. O valor do negócio ascende a 106 milhões de euros e ajudará a reduzir o défice orçamental deste ano, numa alienação feita a uma empresa do próprio Estado: a Estamo, uma sub-holding imobiliária controlada pela Parpública. O contrato de promessa de compra e venda será assinado ainda este mês e a alienação, por ajuste directo, terá de se realizar até 31 de Dezembro de 2010.» [DE]

RONALDINHO

COINCIDÊNCIAS

Depois de Aznar ter vindo a Lisboa dias antes da assembleia geral da PT para falar com Pedro Passos Coelho e Cavaco Silva é a vez do líder do PP ir a Madrid prestar vassalagem ao líder do PP, como manda a tradição do nosso PSD, e reunir com empresários espanhóis. Bolas, nunca vi tanto intercâmbio político entre Madrid e Lisboa.

PORTUGAL E O CONTEXTO DA CRISE

«A comunicação social, todos os dias, invade a casa dos portugueses e torna- -os cada vez mais pessimistas. Há razões para isso: o desemprego crescente, a pobreza, que começa a ser muito preocupante, a precariedade do emprego, as falências das pequenas e médias empresas, que se anunciam com extrema frequência, e as inaceitáveis desigualdades sociais. Mas, apesar de tudo isso - e o mais que se poderia acrescentar -, os portu-gueses não devem, nem po- dem, deixar-se cair no pessimismo e perder a confiança em si próprios e no futuro do País a que pertencem.

É preciso reagir. Portugal não está sujeito a nenhuma fatalidade. As crises - e tivemos algumas, graves, nos últimos anos - têm tido sempre solução. É o que a história nos ensina. Às vezes até nos abrem novas oportunidades.» [DN]

Parecer:

Por Mário Soares.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

CHARUTO SALVA, CHARUTO DESPEDE

«Dia de cortes, ontem. Ele é a Grécia, que diz que reduziu o défice público em 43%. Ele é o ministro das Finanças britânico, George Osborne, que anuncia cortes nas despesas dos ministérios até 40%. Ele é o parlamento francês, que vota o fim dos salvamentos gratuitos: "Um francês está em perigo em Djibuti? Vamos já buscá-lo!" Enfim, dia de muitos estrebuchares, prova de que a crise comanda-nos a vida. Ontem, também, foi dia do nervoso miudinho da agência de rating Standard & Poors (S&P), cujo presidente, Deven Sharma, atacou a possibilidade de aparecer uma agência de rating europeia: "Os negócios são globais, não locais", justificou ele, como se as pontuações da S&P brotassem de interesses não localizados. Ontem, portanto, foi mais um dia marcado pelo essencial: a crise financeira. Também podia incluir nela, na crise, a demissão do secretário de Estado francês, Louis Blanc, ontem apresentada. Vocês sabem, já aqui falei dele e do seu gosto pelos charutos: o gabinete de Blanc gastou 12 000 euros em 'habanos', e Sarkozy não gostou nada do escândalo. Mas não, reservo o caso "Louis Blanc" à categoria de ironia, o que é muito mais interessante do que mero exemplo de crise. Em 11 de Setembro de 2001, director da Merril Lynch, Blanc estava nas Torres Gémeas, em Nova Iorque. Desceu para fumar um charuto. A paixão reacendeu-lhe a vida, agora apagou-lhe a carreira. » [DN]

Parecer:

Por Ferreira Fernandes.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

FTT

«Na última semana a cidade de Toronto recebeu mais uma reunião magna das grandes potências económicas mundiais (G-20), numa cimeira onde as grandes conclusões foram a necessidade de aplicação ao nível global de planos de austeridade consagrando medidas anti-défice e de contenção orçamental.

Não surpreendem estas decisões, uma vez que continuam a ser retiradas da cartilha neo-liberal e conservadora que domina a maioria dos governos europeus, comprovando, aliás, que a política da união é fortemente marcada ideologicamente. De fora da agenda ficaram algumas das propostas que têm sido frequentemente apresentadas pela família progressista europeia (liderada pelos socialistas), como a que pretende introduzir uma Taxa Financeira Internacional (Finantial Transation Tax, ou simplesmente FTT).» [DE]

Parecer:

Por José Reis Santos.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

O CHEQUE E O XEQUE-MATE

«No meio do teatro de sombras em que se transformou o negócio PT/Vivo/Telefónica, o Governo espanhol achou que a Portugal estava reservado o papel de D. Quixote, o cavaleiro que não distingue a ficção da realidade.

Os ministros Miguel Angel Moratinos e Elena Salgado e a Telefónica, transformaram--se em anjos impolutos, escrevendo o argumento. José Sócrates entendeu tarde demais o verdadeiro dilema da PT, entretido com o assalto à TVI numa lógica que um dia será melhor explicada.

Não se preparou, estrategicamente, para o que a Espanha queria e, por isso, a sua reacção foi tardia e disparatada. Mas talvez esteja a tempo de recuperar o equilíbrio político. A sua entrevista ao "El País" mostra um renovado Sócrates que sabe separar o trigo do joio. E que entende o que efectivamente está em jogo, enquanto que atrás das cortinas se continuam a inventar cenários para que tudo pareça um conto de fadas.

O Governo espanhol e a Telefónica, tão amigos das regras de mercado, sabem o que fizeram à alemã E.on quando tentou entrar em Espanha. E sabem como Berlusconi despachou a Telefónica quando esta estava tentada pela Telecom Itália. As leis do mercado têm diferente valor em diferentes épocas.

Mas a ideia espanhola foi genial e lembra quando Maquiavel, para comemorar as vitórias de Florença, comissionou um mural em conjunto a Leonardo Da Vinci e a Michelangelo, sabendo que ambos se odiavam. Conseguiu dividir o poder político e o económico português, enquanto acenava com o cheque.

Agora resta saber quem aplicará o xeque-mate.» [Jornal de Negócios]

Parecer:

Por Fernando Sobral.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

SUL PODE FICAR SEM AS SCUT

«O Governo está a ultimar a proposta técnica sobre as portagens nas Scut para aprovação final do primeiro-ministro e, só após a aprovação de José Sócrates, seguirá até à S. Caetano à Lapa, sede do PSD. O Executivo terá que se entender com Pedro Passos Coelho sobre esta matéria até à próxima sexta- -feira, dia 9. Dia em que o PCP e o BE fazem passar pelo crivo dos deputados o decreto-lei que institui as portagens naquelas auto-estradas e a data da sua entrada em funcionamento.

O Ministério das Obras Públicas terá que apresentar aos sociais- -democratas, entre outras coisas, os critérios de "isenção" e de "discriminação positiva" e o seu impacto financeiro na cobrança das portagens. Tanto mais que a primeira proposta avançada pelo secretário de Estado das Obras Púbicas, Paulo Campos, de isentar 46 municípios, baseado no índice de desenvolvimento concelhio, foi considerada inegociável pelo líder do PSD. "É pôr autarcas contra autarcas", argumentou Passos.» [DN]

Parecer:

Não era isso que Rui Rio queria?

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Sugira-se a Mendes Bota que vá embirrar com os seus camaradas do norte.»

PODE SURRAR POLÍCIAS À VONTADE

«Foi a segunda vez em menos de quatro meses que um morador do bairro da Bela Vista (Setúbal) esmurrou um polícia, mas à semelhança do que já aconteceu em Março, também desta vez o homem, na casa dos 30 anos, ficou apenas com termo de identidade e residência. A decisão do tribunal gerou um clima de mal-estar entre os colegas, que esperavam uma medida de coacção mais pesada, como permite a lei, devido à reincidência, entre as apresentações periódicas até à própria permanência na sua habitação.

Fonte policial lamentou ao DN que o tribunal não tivesse levado em linha de conta o "perigo para a vida em comunidade" que o indivíduo representa, após os dois casos de comportamento agressivo contra elementos da polícia, sendo que na noite de domingo o suspeito começou por provocar um agente à paisana, que estava, à porta da casa (no bairro da Bela Vista), à espera do cunhado para ir beber café. O agressor saberia que do outro lado estava um polícia, tendo sido esse o motivo da provocação.» [DN]

Parecer:

É uma pena que o meliante não dê uma surra num juiz, era a maneira de não ficar outra vez com termo de identidade e residência.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Lamente-se.»

O FALHANÇO FOI UM BOM NEGÓCIO PARA QUEIROZ

«Carlos Queiroz vai encaixar mais de 800 mil euros pela campanha da selecção nacional no Mundial da África do Sul. O CM sabe que no contrato que vigora entre o seleccionador e a FPF, e que só expira em 2012, consta uma cláusula que atribui ao primeiro dez por cento dos prémios pagos pela FIFA à instituição dirigida por Gilberto Madaíl.

Contas feitas, Carlos Queiroz teve direito a receber 720 mil euros, dos 7,2 milhões de euros pagos pela FIFA à FPF pela presença da Selecção nos oitavos-de-final no grande evento do futebol mundial. A esses valores, há a acrescentar mais 800 mil de ajudas de custo (80 mil para Queiroz), quantia entregue a cada uma das 32 selecções presentes no Mundial. » [CM]

Parecer:

Assim também eu não me queria ir embora.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Que lhe faça bom proveito.»

A EXTREMA-ESQUERDA É O CARREGADOR DO ANDOR DA DIREITA

«As forças políticas à esquerda do PS "são hoje carregadores do andor onde vai a direita política portuguesa", considerou Augusto Santos Silva, falando esta manhã nas jornadas parlamentares do seu partido, que decorrem na Assembleia da República. "Não devemos ter nenhuma dúvida sobre isso", insistiu.

Mas para o dirigente socialista, o combate à direita é que deve ser a prioridade do PS, pois "é melhor tratar do andor do que dos ajudantes que o carregam". Da dupla demarcação que os socialistas devem fazer, à esquerda e à direita, a segunda é que é "decisiva". "É aí que devemos insistir o essencial do nosso combate político", frisou Santos Silva, pois a "agenda da direita portuguesa é superar o Estado Providência" e instituir o "Estado mínimo".» [Expresso]

Parecer:

Santos Silva tem razão e o pior é que durante quatro anos todos viram Manuel Alegre a carregar o andor.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se a Manuel Alegre se ficou com muitos calos na mão.»

ENRICO GROTTO

AGENTE CIDADÃO