Quando Vítor Constâncio era líder do PS o então “Jornal Novo” publicou uma manchete perguntando por ele, o agora vice-presidente do BCE parecia andar desaparecido e tempos depois perdeu a liderança do partido. Agora é António José Seguro que desapareceu sem deixar rasto, talvez tenha ido a banhos e não queira aparecer numa coluna social como sucedeu com Passos Coelho, mas o certo é que nem se sabe do líder, nem o PS tem sido um partido da oposição, aliás, nem sequer tem sido um partido.
Quando Sócrates era primeiro-ministro o agora líder do PS era uma sombra constante, não perdia uma oportunidade para se demarcar ou afirmar a diferença, se a liderança de Sócrates era questionada afirmava-se sempre como a alternativa. Contra Assis foi um candidato aguerrido, usou o controlo do aparelho partidário para fazer uma guerra sem quartel à candidatura adversária secando-lhe todos os apoios. Agora que é líder da oposição e o seu velho amigo Passos Coelho governa e implementa um programa económico de uma severidade nunca vista fica-se com a sensação de que Seguro concorda com tudo, desde as manobras de difamação do governo do seu próprio partido à escolha de Mário Crespo para Washington.
Antes de Seguro ganhar a liderança do PS a oposição feita por este partido chegou a ser patética, desde que Seguro chegou à liderança deixou de existir. A troika esteve cá? O PS ficou à margem. Passos Coelho inventou um desvio colossal? O PS nem pediu explicações. O Miguel Relvas designa oficiosamente o Mário Crespo para correspondente do governo em Washington? O PS nada tem que ver com o assunto.
Quem cala consente e é isso que Seguro tem feito, tem consentido que todas as medidas brutais de austeridade constavam no acordo com a troika, o que não é verdade, tem consentido as manobras quase públicas para entregar a RTP ao consórcio formado pela Cofina e pela Ongoing, tem consentido no despudor em torno da utilização da informação das secretas, tem consentido em todos os ataques ao seu próprio partido.
Convencido de que não é tempo de chegar ao poder o líder do PS comporta-se como oposição interna a um Sócrates que já está algures em Paris, enquanto o PSD apresentar medidas brutais (como Gaspar gosta de lhes chamar) justificando-a com supostos buracos da responsabilidade de Sócrates, isto é, enquanto o PSD justificar tudo o que az como o argumento de que corrige asneiras ou abusos do governo anterior parece que Seguro alinha fazendo oposição ao seu próprio partido. Mais importante do que fazer oposição a Passos Coelho, para António José Seguro é mais importante livrar-se do fantasma de José Sócrates. Seguro não está fazendo oposição ao PSD, está a tentar livrar-se de um passado que o persegue, para isso está recorrendo à ajuda de Passos Coelho para derrotar um José Sócrates que não teve a coragem de enfrentar.
O actual líder do PS não é líder da oposição, comporta-se antes como o “Seguro” de Pedro Passos Coelho.