Basta uma mera comparação entre a edição do dia de um jornal espanhol com a de um jornal português para nos apercebermos como este país está a ficar cada vez mais pequeno. Num jornal como o El Pais ou o El Mundo, para não dizer que na comunicação social espanhola em geral, não encontramos um debate tão aceso porque o fulano tal foi para adjunto do ministro, não ficamos a saber as contas a prazo que constam das declarações de rendimentos dos membros do governo e muitas outras idiotices que enchem as primeiras páginas dos jornais que por cá são considerados como de referência.
Também não encontramos descobertas bombásticas de meia dúzia de facturas escondidas num quarto escuro, não me recordo de um grande jornal usar a primeira página para um “grande repórter” bufar o nome de um blogger e não se regista a promiscuidade de jornalistas que praticam jornalismo militante durante a manhã, são bloggers sacanas durante a tarde e fazem intriga no Twitter durante a noite.
As instituições fazem o seu trabalho sem viverem para a comunicação social, não se sabe o que fez a ASAE lá do sítio ou quantas doses de marijuana apreende a Guardia Civil em Ayamonte. Por cá quatro quintos dos jornais, desde o mais tablóide ao sério Público são lixo, intriga, golpes baixos e opiniões idiotas. Em vez de informação temos calhandrice, em vez de debate de ideias temos jogo sujo.
Com o baixo nível que se regista no debate nacional não admira que o país não saia da cepa torta, as políticas não são discutidas com seriedade, os cidadãos em vez de informados são induzidos sistematicamente em erro e manipulados. Veja-se por exemplo as notícias que nestes dois dias surgiram a dar conta que os ricos pagam muito em IRS.
Os mais ricos de França pediram para pagar mais impostos sobre a sua riqueza, não apenas mais IRS sobre os rendimentos declarados para efeitos de IRS que como se sabe é uma pequena parte dos seus rendimentos pois em limite alguns poderão fazer o que em tempos se soube de um presidente do Benfica, declarar o ordenado mínimo. Muito do aumento da sua riqueza não é ventilada para efeitos de IRS e o senhor Amorim que com a valorização das acções da GALP pode ganhar centenas de milhões de euros num único dia pode em limite declarar o ordenado mínimo e ir pedir o rendimento mínimo de inserção mais uma ajuda ao Álvaro para o passe social.
Pois nestes dois dias nenhum jornal abordou o problema com o mínimo de honestidade e desdobraram-se as notícias informando que os mais ricos pagam 50% de IRS numa tentativa clara de iludir os tolos. O embuste tem sido tão grande que só falta a TVI criar uma conta bancária para onde os portugueses devem mandar os seus donativos para ajudar o Amorim, o Belmiro e o Soares dos Santos.
São esses mesmos jornalistas que no dia-a-dia transformam este país num verdadeiro aterro sanitário, ludibriando os portugueses e dando uma preciosa ajuda para o nosso subdesenvolvimento. Compreende-se, é esse mesmo subdesenvolvimento que enriquece uns e alimenta as gorjetas de outros.