Há uns meses pedia-se desculpa por se absterem na votação de medidas de austeridade, agora a moda é a das mas medidas brutais, o frágil ministro das Finanças adora este tipo de adjectivos, robusto, brutal, colossal. Há uns meses criticavam-se as políticas por não promoverem o crescimento e assentarem no aumento de impostos, agora adia-se o crescimento e adoptam-se aumentos brutais de impostos.
No pressuposto de que os portugueses são mansos adoptam-se medidas duras dia sim, dia não, em nome de uma visão liberal promove-se uma revolução que não foi discutida nem referendada, com o argumento das contas públicas faz-se um saque fiscal, a troco da ilusão do crescimento transfere-se de forma forçada a riqueza dos mais pobres para os mais ricos.
O problema da pobreza é combatido eliminando exigências higiénicas nas cantinas sociais, oferecendo medicamentos em fim de prazo, compensando os aumentos brutais de preços com pequenas borlas. Institucionaliza-se a caridade, o Estado deixa de ter políticas sociais e de enquadrar a acção das organizações privadas de caridade, passam a ser estas a enquadrar a acção do Estado. O objectivo deixa de ser combater a pobreza mas sim garantir que o sofrimento dos pobres não ultrapasse limites de sacrifícios de que resultem riscos de perturbação da calma pública, da solidariedade social do século XX recuamos para a caridade dos princípios do século XX.
O ministro das Finanças anuncia medidas fiscais e ignora a competência do parlamento, os membros da troika humilham o governo em público, o primeiro-ministro exibe-se entre o povo nas ondas da Manta Rota enquanto o presidente se esconde na Quinta da Coelha e dirigem-se aos portugueses através de bitaites no Facebook, o ministro da Defesa dirige-se às tropas desancando no governo anterior como se este fosse o actual “in”, os antigos turras. E enquanto a mensagem para o povo é de sofrimento assiste-se ao assalto a tudo quanto é tacho rentável, começa-se pelos melhores como se houvesse uma fila de espera onde quem está à frente tem o direito de escolher o melhor, negocia-se a venda do BPN de forma pouco transparente, sabe-se que os candidatos a ficar com a RTP traficam relatórios das secretas.
Não admira que o Alberto João alerta para os riscos sociais e sugira que o problema se resolve com propaganda polícia e tribunais, em matéria de democracia musculada ele sabe do que fala, ainda que o problema do país seja diferente do madeirense, na ilha tudo se tem resolvido gastando dinheiro, por cá está-se distribuindo miséria e tirando o dinheiro que alguns têm para compensar o que outros tiraram. Mais ingénuo é João Duque que vai para a televisão dizer aos portugueses que comam e calem, que não vale a pena protestar.
O medo é evidente, contando com a calmaria do Verão adoptam-se sucessivas medidas a acrescentar às que já tinham sido adoptadas ou aprovadas, só que quando chegar o final do ano os portugueses vão perceber a dimensão da brutalidade de Vítor Gaspar, as empesas vão conhecer a verdadeira dimensão as políticas recessivas que estão a ser implementadas e o governo vai entender que uma maioria absoluta frágil, um primeiro-ministro sem carisma e um presidente com pouca credibilidade poderão não estar à altura da tempestade que estarão a provocar.