A Caipirinha deu lugar à Caipiroska e parece que a troika foi substituída pela concorrência da Gasparoika, a versão mais robusta da troika. Aquando da negociação do acordo com a troika ainda se ouviu falar de divergências entre a EU e o FMI com esta organização a cobrar juros mais baixos e a manifestar maiores preocupações com o crescimento. Depois apareceu Passos Coelho a dizer que era mais troikista do que a troika e apareceu o Gaspar a manifestar-se como um defensor incondicional de uma política económica dura. Na sua imagem de “cão abandonado” o ministro introduziu o termo robusto e desde então os adjectivos da sua política económica são do tipo brutal e colossal.
O ministro já deixou de falar em crescimento económico e muito menos da qualidade desse crescimento ou do tipo de emprego que gera, isso pouco lhe importa, Vítor Gaspar é um daqueles economistas que desprezam os indicadores sociais, são indiferentes à miséria que resulta das suas políticas. A sua abordagem da política económica nada tem de novo e não é a primeira que vez que a receita foi aplicada.
A lógica da sua política é simples, se as contas públicas estão desequilibradas e as empresas sentem dificuldades de competitividade promove-se a transferência de riqueza da classe média e dos pobres directamente para os mais ricos ou indirectamente através do Estado. A forma mais prática de o fazer é aplicando impostos brutais e para calar os mais pobres promove-se a institucionalização da caridade A própria coligação reflecte esta estratégia, o PSD responsabiliza-se por ajudar os ricos enquanto aos ministros do CDS coube a distribuição da caridade.
Muito antes de qualquer desempegado encontrar emprego já empresas como os bancos, a EDP, a SONAE, o Pingo Doce, a GALP ou a PT reforçaram os seus capitais ou distribuíram milhões em dividendos graças à redução da TSU, da redução dos salários ou dos negócios com um Estado generoso para os mais abonados. E quando o emprego surgir, se isso vier a acontecer, os aumentos dos lucros foram brutais enquanto o emprego criado paga salários inferiores aos alguma vez praticados em Portugal.
O que o Vítor Gaspar está a fazer é a colocar uma banda gástrica fiscal aos que trabalham para se assegurar que a riqueza fui para os que se investem. Quando a sua política terminar, porque aumenta o empego de trabalhadores não qualificados ou porque desencadeou uma grave revolta social, as estatísticas evidenciarão um desequilíbrio bem maior do que o actual na distribuição do rendimento. Em vez de resolver os problemas da economia criando mais riqueza a sua estratégia passa pela criação de mais miséria.