A política económica do governo de Passos Coelho não se fica pelo reequilíbrio das contas públicas, este reequilíbrio está sendo feito à custa do empobrecimento forçado da classe média ao mesmo tempo que se promove a transferência de riqueza para os empresários como forma de compensação pelas perdas nos seus negócios, a eliminação de custos sociais à custa do aumento da tributação do consumo dos mais pobres e a liberalização do mercado do trabalho com o objectivo de forçar uma redução salarial.
O que está em causa não é apenas o reequilíbrio das contas do Estado, a política económica visa um modelo de crescimento assente nas vantagens comparativas da mão-de-obra barata. O crescimento foi adiado e a retoma apontada para 2013 ou depois conta com o aumento de mão-de-obra pouco qualificada e barata. Os projectos de qualificação parece terem sido abandonados, a modernização da sociedade deixou de ser prioridade, a qualidade do ensino cedeu aos interesses corporativos instalados, as apostas em novas tecnologias e nas economias renováveis foram esquecidas.
A aposta faz-nos recuar ao modelo económico dos tempos da EFTA, aposta-se na sobrevivência da economia portuguesa explorando o mercado de produtos de baixo valor acrescentado que sobreviveram ou vão sobrevivendo ao desmantelamento pautal promovido pela Organização Mundial de Comércio. Os excedentes de mão-de-obra, designadamente os trabalhadores qualificados beneficiarão da livre circulação e a emigração servirá de escape para o desemprego endémico dos quadros. Empobrece-se a classe média que ainda existe e promove-se a sua extinção a médio prazo.
Os empresários recebem uma ajuda que nunca ousaram pedir, a perda de competitividade resultante da má gestão ou da preguiça oportunista será recompensada com uma redução dos salários e das contribuições sociais, vão receber uma redução brutal da TSU financiada pelo consumo de produtos básicos pelos pobres. Ganham em dois carrinhos, com salários mais baixos e transferindo os custos sociais para os trabalhadores através dos impostos.
Se a economia não entrar em espiral obrigando Vítor Gaspar a apanhar o primeiro avião é provável que o país venha a ter uma ilusão de crescimento, mas este modelo conduzirá inevitavelmente à saída do euro, senão mesmo da EU. As assimetrias na distribuição do rendimento resultarão no aumento de bens de luxo, um fenómeno há muito evidente na nossa sociedade, não será exportando mais cuecas que conseguiremos pagar o aumento da importação de iates e carros de alta cilindrada.
O problema da competitividade da economia portuguesa não está apenas na competitividade das empresas, está na degradação dos termos de trocas do nosso comércio externo, vendemos produtos cada vez mais baratos e importamos produtos cada vez mais caros. Como se isso não bastasse uma boa parte dos produtos que exportamos, para além de serem de baixa qualidade, incorporam uma elevada percentagem de matérias-primas importadas.
A aposta da política económica de Vítor Gaspar ilude a realidade a curto prazo e deixará os investidores do mercado financeiro mais tranquilos mas conduzirá o país ao desastre económico. Esta estratégia económica conduzirá à saída do euro e, depois disso, à incapacidade de competir no mercado da União Europeia. É uma estratégia de vistas curtas que não hesita em comprometer o futuro do país.