Da mesma forma que existirá sempre uma divisão entre os que defendem a economia do mercado e os que pensam que a regulação da economia deve pertencer ao Estado, também entre os que defendem o mercado existirão os que pensam que devem ser os mercados a tudo decidir e os que defendem que cabe ao Estado corrigir os desmandos dos mercados. Os liberais estão convencidos de que sem a intervenção estatal os mercados conduzem a melhores soluções, os que não partilham desta concepção defendem que cabe ao Estado intervir em maior ou menor grau nas decisões económicas.
Uns e outros podem invocar casos de sucesso, qualquer uma das duas correntes pode apontar insucessos à outra. Os europeus não invejam o modelo americano e os americanos não compreendem o modelo europeu. Se os liberais tivessem razão a Europa seria inviável e se a América tivesse os problemas da Europa já teria sucumbido a várias guerras civis. O liberalismo tem resultado em países muito ricos ou em países pores sujeitos a ditaduras, o keynesianismo e as correntes social-democratas provaram na Europa.
No plano teórico as duas posições são coerentes e defensáveis, é provável que bem conduzidas possam conduzir a bons resultados, a grande diferença estará nas tensões políticas que poderão gerar em cada país e na própria cultura de cada nação.
Passos Coelho, de quem não se conhecem grandes conhecimentos teóricos, afirma-se como um liberal, é apresentado como tal por muito boa gente e a oposição mais radial para quem o diabo também é liberal gosta de o apelidar de tal. Mas Passos Coelho que dirige o único partido do mundo que é uma obra de contracção é também um liberal contrafeito, tem tanto de liberal quanto o PSD tem de social-democrata.
O liberalismo não significa vender bancos de forma pouco transparente, privatizar televisões disputadas por gente que se digladia com difamação por sms e relatórios da secreta, distribuição de ajudas caridosas aos mais pobres para lhes garantir o voto e outras manobras a que estamos a assistir.
O problema da economia portuguesa não são os seguros da CGD ou o SNS, é antes a ausência de mercados e sem se assegurar que nestes existe concorrência o liberalismo não passa de uma fachada para encobrir negócios de favor.