Marques Mendes foi deputado, foi secretário de Estado, foi ministro adjunto do primeiro-ministro, foi porta-voz do governo, foi líder do PSD e quando se retirou da política tornou-se empregado de um empresário de nome Joaquim Coimbra, homem igualmente do PSD e que é um endinheirado das lideranças deste partido, fazendo lembrar um pouco o Zé Grande, um outro empresário muito querido nos meios políticos e que ficou conhecido por ter dado uma gorjeta de muitos milhões a Ricardo Salgado.
O tal Joaquim Coimbra não saltou para a ribalta graças a uma gorjeta mas quis o destino que a história o cruze com o Zé Grande, ali para os lados do Banco de Portugal. Se o Zé Grande salta para a comunicação social depois da nacionalização do BES pelo BdP, o nome de Joaquim Coimbra ficou famoso porque Luís Filipe Menezes ter tornado público que o empresário se demitiu da Comissão Política Nacional depois de Luís Filipe Menezes ter defendido a realização de um inquérito à supervisão bancária. Coincidência as coincidência esse tal Coimbra era um importante sócio do BPN.
Temos então uma situação muito curiosa, um ex-empregado de Luís Coimbra, homem forte do BPN soube com antecedência o que o governo e o BdP tinha decidido para o BES, antecipando em um dia a divulgação desta decisão, um dia depois de alguns accionistas do BES se terem livrado à pressa das suas acções no banco, uma operação bolsitas que suscitou dúvidas e conduziram a uma investigação da CMVM cujo presidente sabia menos sobre o que se decidia no BES do que o assalariado do antigo acionista do BPN.
Algum jornalista questionou este processo? Algum magistrados decidiu uma investigação ao papel e forma como Marques Mendes tem acesso a informação privilegiada? O governador do BdP ficou incomodado pela figura que parvo que fez na comunicação sobre o que supostamente teria decidido para o BES? Não, em Portugal tudo isto é normal.
Passos Coelho percebeu que isto já é palhaçada a mais e inventou uns arrufos de namorados com Marques Mendes a propósito do orçamento rectificativo. Marques Mendes anunciou um possível aumento de impostos a que Portas se opunha, Passos Coelho ficou indignado e por fim todos ficaram felizes com governo, PSD, CDS e jornalistas económicos a elogiar o governo por ter superado as consequências da decisão maldita do TC sem recorrer a mais impostos, algo de que, como se sabe, este governo não gosta mesmo nada. Tudo acabou em bem e nestes sábado o assunto será encerrado com Marques Mendes a elogiar Passos Coelho pelo seu orçamento rectificativo, uma obra prima da política económica pois consegue prever em simultâneo uma redução do crescimento económico e uma redução do emprego.
O mais divertido disto tudo é que ;Marques Mendes ainda se veio gabar que não revela um terço da informação que tem, o que é uma pena pois não se sabendo bem a que se refere esse terço de informação que fica para proveito próprio há razões para acreditar que pode servir para ganhar uns trocos na bolsa ou noutros negócios para os Comibras e os Zés Grandes deste país.
Só mesmo neste país se assiste a um espectáculo destes, com um ex-.governante a fazer um papel tão pouco transparente e ainda por cima a gabar-se, armando-se em comentador político. Resta saber quanta informação Marques Mendes fez circular ao longo da sua carreira política e quem beneficiou com isso. Não se percebe como a República se afunda em tanta bandalhice e um dos principais actores deste espectáculo miserável é membro do Conselho de Estado.