Ao mesmo tempo que se sabe que o governador de Portugal foi apanhado de surpresa e que o sistema financeiro esteve no fio da navalha na passada sexta –feira alguns admiradores fanáticos do actual primeiro-ministro, como é o caso de um tal José Manuel Fernandes, elogiam a decisão de Passos Coelho em ajudar Ricardo Salgado. Os spin do governo têm-se esforçado em passar a mensagem de que Passos recusou ajuda ao grupo GES e que nestes dias tem estado entretido na Manta Rota. Digamos que enquanto o Costa tira a pele aos Espírito Santo os Passos Coelho tirava a pela aos carapaus para os fazer alimados de acordo com a receita dos Silva da Coelha.
Acreditando nos spin governamentais Passos Coelho recusou ajuda aos Espírito Santo, o que terá desiludido o seu amigo Ricciardi, um dos poucos cidadãos comuns com aceso directo ao telemóvel do primeiro-ministro. Esta tese que elogia a coragem do primeiro-ministro implica que houve uma decisão sobre todo o grupo GES e que tomada essa decisão a falência do BES estava decidida.
A questão agora é saber que tipo de ajuda foi pedida e de que forma foi recusada. Segundo os spin Passos não misturou negócios com política, um chavão que Seguro imita até à exaustão, mas que só revela inexperiência e irresponsabilidade. Quando o Presidente viaja com um avião cheio de empresários está misturando o quê? Quando Passos vista as feiras está misturando o quê? Quando se faz diplomacia económica mistura-se o quê? Quando Marcelo levou Cavaco Silva à casa de Ricardo Salgado para este o convencer a candidatar-se a presidente misturou o quê? Quando Passos Coelho estava na Tecnoforma e tentava obter fundos comunitários misturou o quê? O Que é condenável não é a mistura, é os políticos ficarem encharcados em corrupção.
Sejamos claros, a decisão tomada por Passos Coelho em relação ao GES foi a mais importante decisão política e económica do seu governo e muito provavelmente uma das mais importantes da nossa história económica desde o século XIX. Se essa decisão foi adoptada a pensar nalguns votos numa tentativa desesperada de se manter no poder pode ter sido o maior acto de incompetência de um governo. A Merkel deixava a BMW ir à falência só para inchar o peito e dizer que os gestores da empresa que assumissem as consequências?
O grupo GES e o BES eram demasiado importantes para que a decisão fosse tomada a pensar apenas nuns quantos votos. Era o maior grupo empresarial que estava em causa e a riqueza destruída vai ser bem maior do que muito provavelmente era necessário. As condições dessa ajuda e a gestão do grupo era outra questão. Pelo que se sabe e só para poder inchar o peito Passos Coelho deixou cair o maior grupo empresarial português para alegria de outros, a começar pelos interesses angolanos.
Estava demasiado em causa para tudo se resuma a um chavão para que os lambe-botas tenham matéria para bajular Passos Coelho ou que para Carlos Costa se armar no herói que salvou um BES bom sem dinheiro dos contribuintes. Quando o país emergir deste pesadelo de tretas e mentiras saberemos quanto custou a Portugal tanta coragem e tanta preocupação com o dinheiro dos contribuintes. Um dia saberemos se o fim da golden share da PT não foi uma mistura de negócios com política para injectar dinheiro no GES com a venda da Vivo e se os 900 milhões da PT não resultaram de outra mistura de negócios com política.
O emprego dos funcionários do BES, a riqueza criada por muitas empresas rentáveis do GES, o peso do GES na economia portuguesa e na sua internacionalização merecem muito mais oprocupação do que uma decisão da treta motivada por meros obejctivos eleitorais de curto prazo. E o ódio aos Espírito Santo ou o desprezo pela sua gestão ruinosa não passam de treta, o GES é muito mais do que uma imensa Tecnoforma ou Fomentivest. Não está em causa salvar a família Espírito Santo que até há pouco tempo era bajulada por todos e que tão preciosa ajuda deu a Passos para chegar ao poder, com ou sem a família Espírito Santo a dimensão do grupo GES justificava mais seriedade e tudo deveria ter sido feito para que as suas emopresas ficassem em mãos portuguesas.