Desde Margaret Thatcher que o pequeno accionista é o símbolo do capitalismo, algo que não sucedia num tempo em que o mundo se dividia entre patrões e assalariados e os investidores na bolsa eram capitalistas. Em qualquer caso a bolsa sempre foi um mercado vigiado para evitar abusos que são equiparáveis a qualquer roubo.
Aquilo que se passou em Portugal com a intervenção estatal no BES foi a todos os títulos muito feio e no plano ideológico representou a evolução do nosso modelo económico para um tipo de capitalismo estatal canalha e sem escrúpulos. Até aqui a bolsa de valores portuguesa era uma feira da ladra onde ladrões profissionais enriqueciam à custa dos incautos, com a intervenção do BES a bolsa de valores deixou de ser uma Feira da Ladra, agora são os polícias que roubam em plena rua e à luz do dia.
Enquanto deram jeito os pequenos accionistas do BES andaram ao colo do governador do Banco de Portugal e do governo, que havia almofada, que uma coisa era o BES banco e outra era o GES, que haviam investidores estrangeiros interessados, que até o Goldman Sachs investia em acções. O objectivo era óbvio evitar que os accionistas se livrassem das acções do BES e manter os clientes no banco.
Nessa fase o Ricardo Salgado escolhia o Vítor Bento, o Seguro visitava o governador do BdP para aparecer nas televisões em prime time. Escolhido o Vítor Bento pela família Espírito Santo o ainda presidente do BES era um bandido e o designado salvador do banco evitava assumir responsabilidades. Ainda havia apenas um banco que era bom, mas passou a haverem accionistas bons e accionistas maus, os primeiros eram os pequenos accionistas, os segundos era a família Espírito Santo, que rapidamente foi afastada da gestão do banco.
O que ninguém poderia esperar era que de um dia para os outros todos os accionistas passassem a ser considerados gente perigosa. Milhares de pequenos investidores que confiaram nos governos, na CMVM e no Banco de Portugal passaram a ser responsáveis pela gestão do BES e condenados a ficar no banco do lixo da família Espírito Santo. Milhares de pessoas que há um mês investiram as suas poupanças no BES, confiando nas instituições públicas foram tratadas como bandidos.
Todos esses investidores estão calados, deixou de haver qualquer diferença entre os membros da fa´lia Espírito Santo e os pequenos accionistas, são todos bandidos e até quem tem há comprado uma acção tem agora receio de o dizer em público. São pessoas que foram arruinadas pelo Ricardo Salgado, pela Maria Luís, pelo Carlos Costa e pelo Carlos Tavares e que a máquina de propaganda do governo transformou em vigaristas. Oas incompetentes e colaboradores de Ricardo Salgado foram promovidos a salvadores do sistema financeiro, enquanto os pequenos accionistas foram transformados em malandros.
A ministra das Finanças e o governador do Banco de Portugal não mataram apenas o BES, mataram também o capitalismo de que se dizem defensores, mataram a credibilidade na bolsa de valores e no mercado de capitais, mataram de vez a credibilidade de instituições como o Banco de Portugal.