quinta-feira, dezembro 12, 2013

Austeridade à Lagardère

Um dos aspectos mais estranhos deste processo a que chama de ajustamento, talvez porque seja um ajustamento de contas com a democracia e com o povo português, é o jogo de espelhos em que se transformou. Nunca se percebe se a troika fala por iniciativa própria ou para fazer o frete à direita do governo, Durão Barroso fala sem clarificar o estatuto que usa.
  
Um dos aspectos mais curiosos é o facto de haver uma clara divergência entre a direcção do FMI e os técnicos que representam a troika nas avaliações que são feitas à execução do que o goverbo acordou de forma avulsa na avaliação anterior. Na América o FMI, pela voz da sua directora ou pelos estudos que os seus gabinetes produzem conclui que há austeridade a mais, em Lisboa a troika que o FMI lidera insiste em ainda austeridade.
  
Estaremos perante um caso de desobediência? É evidente que não, a verdade é que na América o FMI diz o que pensa e em Lisboa o seu representante faz o que a troika quer e como se tem visto é o Eurogrupo, Durão Barroso e o BCE que de facto mandam. 
  
Se a directora do FMI faz questão de acusar o excesso de austeridade precisamente no dia em que o seu técnico está em Lisboa é porque quer afirmar a sua posição, ilibar o FMI dos excessos dos extremistas de Bruxelas. O que a directora está dizendo aos portugueses é que o excesso de austeridade defendido pelo governo português e pelos extremistas europeus não tem qualquer fundamento económico.
  
Não há, portanto, qualquer contradição entre o pensamento e a prática do FMI, o que há é um processo político resultante do conluio dos extremistas portugueses apoiados por Passos Coelho com os extremistas de Bruxelas que dependem de Durão Barroso. Aquilo a que estamos assistindo não é a um ajustamento económico mas sim à reformação de um modelo social.
  
A verdadeira troika responsável pela destruição do muito de bom que existia em Portugal não é formada pelo FMI, pela Comissão e pelo CEE, a troika de que o país precisa de livrar é a composta por Passos Coelho, Durão Barroso e Cavaco Silva.