A última campanha do Banco
Alimentar Contra a Fome mostrou uma responsável mais cuidadosa nas palavras e
uma operação junto da comunicação social digna de uma grande multinacional.
Estivemos perante uma campanha com um elevado nível de profissionalismo que só
falhou pelo assédio que os seus voluntários fazem aos clientes dos
supermercados.
Ficou também marcada por algum
debate sobre os interesses que envolvem estas campanhas com uns a tratá-las
como meros negócios e outros a considerar que os primeiros nada fazem contra a
fome, fazendo passar a mensagem do que a melhor forma de combater a fome é
institucionalizando a caridade. Pelo meio ainda se assistiu à ressurreição do
presidente da AMI chamando a atenção para o seu importante papel, só não se
entende a razão porque esteve para abandoná-lo a troco de um penacho político.
Por fim, o presidente da Cáritas
fez uma declaração que passou despercebida, sugeriu que o Estado reembolsasse o
IVA que cobrou nas doações feitas ao Banco Alimentar Contra a Fome, denunciando
uma reivindicação futura destas instituições. Só não se percebe a razão porque
o mesmo senhor não exigiu aos distribuidores que venderam os produtos a
devolução da margem de lucro, dando assim uma prova inequívoca de que a
caridade promovida pelas grandes superfícies não é mais do que um grande
negócio para o merceeiro dos tamancos mais o seu amigo dos contraplacados.
Os pobres são uns tipos cheios de
sorte, têm milhares de boas almas preocupadas com o seu bem estar e um dia destes ainda vamos
ouvir isso ser dito pela boca de algum alto responsável da caridade nacional.
Não só são uns tipos porreiros como ainda geram emprego e muito a ganhar por
muitos milhares de especialistas em pobreza.
Sem a pobreza nosso amigo Santana
Lopes não seria provedor da Santa Casa, as dezenas de dirigentes da mesma
instituição teriam que ir em busca de tacho alternativo, isto só para dar um
exemplo. Independentemente do que se possa pensar ou dizer da caridadezinha institucionalizada
a verdade é que anda por aí muita gente a viver à grande e à francesa à custa
dos pobres.
A caridade tornou-se num mega
negócio e se, envolve muitos voluntários e gente com boas intenções, também
cria milhares de empregos, tachos muito bem remunerados. Imagine-se quantos
almoços são pagos por estas instituições para que alguns dos seus dirigentes
possam preocupar-se com a pobreza em restaurantes de luxo.
De certeza que se compararmos o
que é dado aos pobres com os lucros e benefícios pelos que promovem e sustentam
a caridade chegamos à conclusão de que são os primeiros os que mais ganham com
o negócio? De um lado estão as sopas quentes, do outro os ganhos das redes de
distribuição, os impostos recolhidos pelo Estado, as mordomias e luxos pagos
pelas Santas Casas, os cargos remunerados, uma rede imensa de assistentes
sociais, etc., etc..
De certeza que são os pobres que
ganham com a caridade ou esta é um imenso negócio e os pobres não passam de
marionetas de muita gente que fez da pobreza dos outros um caminho para o seu
próprio enriquecimento? Não se trata de uma acusação ou conclusão, mas é óbvio
que este fenómeno tem uma vertente de negócio e ambição pessoal. Veja-se o caso
da AMI, que move milhões e é gerida como se fosse um negócio familiar, uma
espécie de Pingo Doce da ajuda.
Curiosamente, as operações de
ajuda alimentar são fortemente vigiadas em Bruxelas pelo historial de fraudes.
Por cá é pecado questionar para onde vão e quem está ganhando com tantos
milhões.