Com os mais pobres a sofrer como há muito não se via, comas
bandeiras sociais da esquerda a serem fortemente atingidas, com o país a ser
governado por políticos que pedem ajuda a estrangeiros para imporem as suas
ideias ao país contra a vontade dos portugueses, com um presidente de letra
pequena a ignorar de forma cada vez mais ostensiva o seu alheamento em relação
aos valores constitucionais, seria de esperar que a esquerda, unida ou não, a
reagir. Mas não isso que sucede e o espectáculo que partidos e uma boa parte da
esquerda exibe é miserável e pouco digno.
Veja-se o que se passa na esquerda conservadora, nessa
salada de velhos estalinistas e trotsquistas que depois de um banho de cromado
se exibem como a esquerda moderna. Cada um que se zanga reúne os amigos num qualquer
salão, escolhe a sigla para o novo partido e informa o povo de que está disponível
para um lugarzito no parlamento europeu. O mais fino agora é fugir para o
parlamento europeu, aquilo é mais “nice”, dá melhor imprensa e os vencimentos não
sofrem com a austeridade.
Até os velhos militantes comunistas que não viram o seu
partido reconhecer os anos de serviços e as novas habilitações académicas
assumem o pesado fardo de unir a esquerda, oferecem os seus préstimos ao povo a
troco de um lugarzito em Estrasburgo, coisa pouca para quem vai conseguir unir
em dias aquilo que o próprio levou décadas a dividir. Enfim, o velho combatente
da unicidade sindical oferece-se agora para a batalha da unicidade política a
troco de um confortozinho europeu, livre de impostos e com viagens pagas. Não
deixa de ser curioso que estes missionários da unificação da esquerda queira
todos unir o país e serem premiados em Estrasburgo e Bruxelas, enfim, mais um
pesado sacrifício para o qual humildemente se oferecem em nome do povo.
O PCP quer derrubar o governo porque, muito provavelmente,
começa a achar monótono lutar com a direita e estará com saudades de derrubar
mais um governo do PS, não admira que as grandes lutas sindicais tenham deixado
de ser os tradicionais bastiões da classe operária para passar a ser o pessoal
da limpeza da CML, ao combaterem António Costa já estão em sessões de
aquecimento para o que aí vem. É evidente que o PCP não está pensando em
grandes conquistas sociais e o seu discurso foi sempre o de que os governos do
PS estão mais à direita do que os de direita, imagine-se o que vai ser com o
Seguro. Então que razões levam o PCP a querer eleições? Desde logo porque poupa
nas sondagens e, como diria qualquer analista da bolsa de valores, o PCP
pretende realizar as suas mais-valias políticas.
No PS a situação chega a ser caricata, a oposição é deixada
a alguns deputados enquanto a direita não se cansa de poupar Seguro, sugerindo
que o pobre coitado não se pode unir ao seu velho amigo Passos Coelho por causa
dos perigosos socráticos. Seguro agradece a bondade da direita e lá continua a
sua cosmética política para que o povo perceba que ele é um rapazinho mais
bonito que José Sócrates. Infelizmente o povo não percebe que há uma grande
diferença entre os liberais de direita do Passos Coelho e os liberais de
esquerda do PS, que o diga um Tal Beleza, braço direito do líder do PS que de
garantiu que de uma penada acabava com a ADSE, provando que os liberais de
esquerda têm melhores projectos do que os liberais de direita.
Entretanto quem se lixa é o povo, ou, como alguns gostam de
dizer, o povo de esquerda. Os políticos de esquerda escolheram o momento mais
difícil de muitos portugueses para exibirem o seu lado miserável. E se uns dão
o cu e cinco tostões para emigrarem Estrasburgo, há quem já lá esteja e tenha
colocado a sua alma à venda num leilão desta imensa bolsa de vira casacas em
que estamos metidos. Enquanto o povo vai sofrendo esta gente luta para manter
ou para conseguir um tacho miserável no parlamento europeu.