Confesso que se não fossem as alarvidades parlamentares do deputado é muito provável que hoje ter-me-ia entregue à preguiça e não colocaria o habitual post da tarde. Mas depois de ter comentado o baixo nível do debate político as palavras do deputado José Eduardo Martins acabaram por ser um bom exemplo do que tinha escrito.
Os termos usados pelo deputado não são novos, o professor Charrua foi transformado em herói da liberdade por ter chamado f. da p. a José Sócrates. Parece que a imaginação dos nossos políticos é escassa e a única forma de caracterizar ou responder aos adversários é recorrendo ao calão pesado.
O mais curioso é que o deputado justificou as palavras porque para ele “quem não se sente não é filho de boa gente” e como ele é filho de boa gente foi para o parlamento falar nos termos em que falou. Até pediu desculpa aos deputados, mas esqueceu-se dos eleitores que o elegeram e da própria instituição parlamentar, para ele o parlamento é um grupo de amigos.
O mais curioso é que no nosso parlamento não há sessão que não seja sistematicamente por deputados ofendidos que pedem autorização da mesa para intervirem em defesa da honra, ficam ofendidos por tudo e por nada como se o debate político tivesse que ser feito com talheres de prata. Já critiquei estas “boas maneiras” dos nossos deputados mas aquilo que o deputado fez não foi debater animadamente as suas ideias, foi uma manifestação de política pimba digna do Carnaval de Torres Novas.
Por muito menos qualquer português pode ir a tribunal e ser condenado a uma pena de prisão, no Código Penal está previsto o crime de ofensa às instituições que foi precisamente o crime de que O Jumento foi acusado quando alguns senhores do fisco tentaram vingar-se por terem sido incomodados. Ora, os termos em que o deputado se dirigiu ao seu colega é, mais do que tudo, uma ofensa à instituição parlamentar. Mas parece que os deputados beneficiam de imunidade para tudo, até para a alarvidade.
Quando será que um líder partidário toma posição pública sobre um comportamento menos próprio de um dos seus deputados?