Entretanto mais pelo prejuízo que pode provocar ao seu partido do que pelas suas ideias ou projectos políticos Alegre vai conseguindo o que a sua capacidade política nunca justificou ao longo da sua carreira política, protagonismo na comunicação social. Manuel Alegre sabe que nunca será primeiro-ministro e que depois de perder o seu partido dificilmente vencerá Cavaco Silva nas próximas presidenciais, resta-lhe o beco sem saída da sua vaidade pessoal. Alegre usa abusivamente os votos que teve nas presidenciais como um cheque em branco que recebeu dos eleitores, comporta-se como um senhor da guerra, daqueles que vemos no Afeganistão ou o Savimbi em Angola, trata os que votaram nele como seus soldados rasos.
A entrevista de Manuel Alegre ao Expresso é muito reveladora do que Alegre quer, transformar uma minoria na própria maioria absoluta, chantagear o PS:
«Se se entender com Sócrates, a restante esquerda fora do PS vai compreender isso?
Quem conversa comigo conversa com o militante do PS, a referência histórica do PS. É uma das minhas debilidades e uma das minhas forças.
A sua permanência no PS não está, portanto, em causa?
Eu estiquei a corda quase até ao limite. Dentro e fora do PS. Mas não posso eu sozinho ser a convergência da esquerda. Não é meu propósito nem minha vontade. A não ser que me forcem a isso. Um partido é um instrumento, não é um fim em si.
Há uma grande abdicação cívica em Portugal. Já havia no tempo do fascismo. E quando isso acontece depositam-se as esperanças em duas ou três pessoas. Às vezes numa só. Isso não me obriga a fazer o que outros querem que eu faça. Com a minha candidatura presidencial surgiu uma nova esperança, um novo espaço político com expressão orgânica e não orgânica, dentro e fora do PS. Para mim é fundamental que a direcção do PS reconheça esse espaço. Se o fizer, óptimo, se não…»
Talvez seja tempo de o PS dizer não a Manuel Alegre, isso dará o poder ao PSD mas terá a virtude de a democracia se livrar de chantagistas, nessa ocasião Manuel Alegre terá um fim triste, irá para o caixote do lixo da democracia.