Estou também convencido que há muitas semelhanças, por exemplo, entre um profissional que abandona a sua profissão e se dedica a ser funcionário do PCP e um crente que se sente chamado por Deus e entra para os Franciscanos. Se ouvirmos um e outro encontramos o mesmo mecanismo mental, para além de uma ideologia e uma religião muito semelhantes.
Porque somos de esquerda ou de direita? Duvido que a maioria faça esta opção por razões ideológicas, da mesma forma que somos católicos muito antes de podermos questionarmo-nos sobre se Deus existe, na maior parte dos casos somos de direita ou de esquerda muito antes de termos qualquer preocupação social.
Na maior parte das vezes somos de esquerda ou de direita por razões tribais, por influência de grupo, seja o grupo familiar, ou um grupo social mais alargado. Também é verdade que em muitos destes grupos surgem excepções, famílias burguesas que dão lugar a dirigentes comunistas (esta é mesmo a regra), da mesma forma que há famílias inteiras de benfiquistas que não conseguem explicar porque um deles saiu sportinguista ou, pior ainda, portista.
Poderemos contrariar esta opinião apontando muitos casos de mudanças partidárias quando se chega à idade adulta. É verdade, da mesma forma que em todos os domínios sucede um pouco o mesmo, são muitos os que mudam de opinião clubista ou mesmo religiosa. Mas aí eu receio que os que mudam de clube sejam mais sinceros do que os que mudam de ideologia. Aliás, é isso que me leva a desconfiar que as ideologias tenham assim tanto peso nas opções dos homens, ainda que o tenham no seu comportamento.
Tenho um irmão de num dia saiu do MRPP e no dia seguinte militava no PCP, mudança menos absurda do que a de muitos militantes da extrema-esquerda que em semanas ou meses se converteram ao PSD, exemplos não falta.
Dir-me-ão que atingida a idade adulta as pessoas fazem as suas opções e isso é verdade. Mas há mudanças em idades mais maduras como a de muitos militantes do PCP que hoje militam ou simpatizam com o PS. Dir-me-ão que caído o muro de Berlim se aperceberam dos resultados práticos da ideologia que defendiam. Mas isso explica uma mudança do PC para partidos de direita, como sucedeu com alguns militantes experientes como Zita Seabra?
O que nos move na política, a ideologia ou a ambição de poder? Cada vez estou mais convencido que a ambição de poder está à frente da escolha ideológica, é mesmo mais forte do que esta. E quando as duas se combinam em doses exageradas dão lugar aos fanatismos.
O que distingue muitos militantes do PSD e do PS, a ideologia ou a adesão a um grupo tribal próximo do poder? O que distingue um militante do Bloco de Esquerda, daqueles que não têm vergonha de dizer que são marxistas-leninistas, de um militante da extrema-direita? Ambos dizem que querem o bem comum e só encontra na ditadura a solução para o imporem aos outros, ambos acham que dariam um bom uso ao poder.
Somos movidos por ideologias ou criamo-las para justificar a nossa ambição pelo poder?