segunda-feira, março 09, 2009

Confiança

A confiança nos bancos e nos diversos agentes que fazem funcionar o sistema financeiro é uma condição para o seu bom funcionamento, se os bancos não forem merecedores da sua confiança os cidadãos não lhes confiam as suas poupanças nem lhes comprarão os produtos financeiros, de igual modo as instituições financeiras internacionais considerarão que há um risco elevado nos negócios e cobrarão juros mais elevados. É para assegurar a confiança no mercado financeiro que existem reguladores.

Os casos BPN, BPP BCP e CGD são três graves atentados à confiança na banca, que puseram em risco a credibilidade no sistema financeiro português.

No BPN um grupo de ex-políticos decidiu entrar numa aventura financeira beneficiando da sua imensa teia de influências, os negócios políticos permitiram uma combinação de capitais em busca de rentabilidades elevadas conseguidas à custa de negócios prometedores assegurados por esquemas pouco transparentes. O resultado foi o que se viu e por aquilo que se tem sabido os administradores do banco actuaram sem qualquer controlo, beneficiando de total impunidade.

O BPP enganou pequenos investidores oferecendo produtos que não correspondiam ao anunciado. Os clientes colocaram o seu dinheiro à disposição do banco e confiaram nos seus gestores porque partiram do princípio de que a honestidade dos produtos financeiros em Portugal é inquestionável, confiando que o Banco de Portugal fosse tão rigoroso com a banca como a ASAE é com os pequenos comerciantes.

No negócio da compra das acções da CIMPOR mais grave do que o negócio em si é o que esteve na sua origem. Compreende-se que a CGD tenha sentido a necessidade de salvaguardar os seus interesses e só mesmo o Louçã é que está convencido que consegue comprar um grande lote de acções com base na cotação destas acções na banca. O que é inaceitável é que os administradores de um banco público ponham em causa a credibilidade desse banco investindo centenas de milhões em negócios de amigos. Não é aceitável que os administradores de um banco público usem o dinheiro do banco e dos seus depositantes em operações de risco e se envolvam em lutas entre os accionistas de bancos privados.

Tal como no BPP e no BPN também no BCP o regulador (ou reguladores para não nos esquecermos da CNVM) parece terem andado distraídos, aquilo que sucedeu com os clientes do banco que perderam as suas poupanças e ficaram endividados para comprarem acções do banco em condições duvidosas foi inaceitável, mais uma vez os cidadãos foram enganados por confiarem na banca. Depois de muitos pequenos accionistas terem sido ludibriados assistimos a uma mudança na administração do banco? E quem são os novos administradores, são precisamente os que estavam à frente da CGD e que usaram o dinheiro deste banco em negócios que parecem ter visado alterar o equilíbrio de forças dentro do BCP. Pelos vistos tiveram sucesso, hoje mandam no BCP e são os accionistas que lhes pediram dinheiro que estão a fazer contas com a CGD.

A perda de confiança na banca portuguesa, um fenómeno paralelo à perda de confiança na banca que está por detrás da crise financeira internacional, não pode ficar impune. Venderam-se acções do BCP como se fosse gato por lebre, venderam-se produtos financeiros com recurso a mentiras, usou-se dinheiro de um banco público em golpadas privadas, fundou-se um banco para tirar proveito dos benefícios resultantes da influência de políticos.

Quem vai assumir as consequências por tão graves atentados à economia, atentados pelos quais vamos pagar durante vários anos? Parece que só o Oliveira e Costa, terá sido escolhido para “boi da piranha”. Os administradores da CGD que fizeram as negociatas das acções foram promovidos e agora estão à frente do BCP e os presidentes da CNVM e do Banco de Portugal parecem estar de pedra e cal, quanto ao ministro das Finanças parece que “mora noutra freguesia” e nada tem que ver com o assunto.