As palavras de José Aguiar Branco no final do congresso do PS, que chegou a designar os congressistas por “capa de maioria socrática”, revela bem como os próprios dirigentes dos grandes partidos já nem respeitam regras mínimas de educação, o mesmo se pode dizer da famosa intervenção de Santos Silva em que o ministro revelou gostar de “malhar na oposição”.
A postura do PSD em relação ao congresso do PS revela bem como a estratégia deste partido está mais próxima das FARC do que do PSD dos tempos de Sá Carneiro, em vez de debater a crise como Manuela Ferreira Leite tanto defende, foi a própria líder que optou por golpes baixos, evitou debater as propostas e preferiu enveredar pela tentativa de desvalorizar o acontecimento explorando a realização em simultâneo de uma cimeira europeia informal, acabando com acusações patéticas de culto da personalidade.
As propostas para resolverem os problemas económicos surgem em catadupa, Bloco de Esquerda, PSD e PCP produzem programas por atacado, apenas preocupados com a simpatia eleitoral das propostas. O governo não escapa a esta lógica e uma boa parte das medidas que adopta para combater a crise é condicionada pelas preocupações em relação ao impacto eleitoral das suas consequências mais nefastas. São propostas que se esgotam no momento em que passam na comunicação social, não passam de truques para ganhar tempo de antena.
Um bom exemplo desta forma de fazer política foi-nos dado ontem pela JSD com a encenação feita junto à Assembleia da República. Incomodado com as propostas de Sócrates em relação às bolsas de estudo para jovens estudantes o PSD mandou os seus pirralhos fazer uma palhaçada junto ao parlamento, lá apareceram uns rapazes da JSD com uma corda de nylon ao pescoço simulando estudantes desesperados. Depois disso os jovens bem vestidos e bem nutridos lá foram recebidos pelo deputado Pedro Duarte, do PSD, com pose de ministro da Educação, armado de bloco de notas e esferográfica muito atento às queixas. Aliás, este tipo de encenação começa a ser quase diária no PSD, imagino que a Manuela Ferreira Leite não faltarão notas para estudar quando liderar a bancada do PSD na próxima legislatura.
Para além destas encenações que o PSD parece ter aprendido a realizar com o Bloco de Esquerda, multiplicam-se as acções de guerrilha, onde o debate dá lugar à ofensa ou à insinuação. Quem não se lembra das centenas de mails relativos à supostas homossexualidade de José Sócrates? Ou das sucessivas manifestações encenadas pela CGTP e, em especial, por Mário Nogueira para apupar governantes? Basta visitar alguns blogues de “professores” para se perceber que mais do que o estatuto ou a avaliação dos professores o que move muita gente é o voto, aliás, o apelo ao voto nesses blogues é descarado.
Outro exemplo desta tácticas de guerrilha são muitos dos comentários que sou obrigado a eliminar, a regra é a ofensa pura e dura, são às centenas os que não resistem à tentação de chamar-me burro, outros optam pela tentativa de desmoralização, muitos insinuam objectivos pessoais, raros são os que discutem as ideias ou expõem as suas próprias opiniões. No passado, quando não sujeitava os comentários a aprovação haviam mesmo comentadores que mais pareciam controleiros partidários. Aliás, basta ver um dos programas de debate das televisões como o “Opinião Pública” da SIC, onde os telespectadores podem falar ao telefone, para se perceber que os partidos se organizam para encher esses programas com telefonemas de supostos populares.
Na luta pelo poder começou a valer tudo, partidos, corporações e outros interesses económicos instalados tudo fazem para conseguirem na rua o que receiam não alcançar nos votos ou para criar um ambiente em que quem ouse elogiar uma medida governamental se sinta como uma ovelha ranhosa. Veremos nas eleições se os que optaram por esta estratégia vão obter algum benefício ou pagar bem caro a oportunidade perdida de apresentar um projecto governamental alternativo, obrigando muitos como eu a votar mais por falta de opção do que por simpatia com José Sócrates.