O argumento mais utilizado em seu favor por Cavaco Silva durante a campanha eleitoral foi o de que graças aos seus conhecimentos e experiência em economia poderia dar uma ajuda preciosa ao país. Com este argumento inteligente Cavaco Silva deixava para trás um Mário Soares conhecido por ser pouco dado aos dossiers da economia e um Manuel Alegre mais vocacionado para bater certo com o fim da prosa. O argumento era tão forte que Cavaco usou-o em todas as oportunidades, até fazia parecer que se estava a oferecer para consultor de José Sócrates.
Deus fez-lhe a vontade e o seu mandato foi brindado com uma das maiores crises económicas de que o mundo tem memória, uma excelente oportunidade para Cavaco Silva dar a tão prometida ajuda. Mas o que diz Cavaco? Que não pode dar nada.
É evidente que quando Cavaco prometia ajuda não lhe passava pela cabeça que iria estar perante um daqueles desafios que tornam os políticos grandes da mesma forma que os podem reduzir à sua pequena dimensão, estaria mais a pensar naquilo a que no mundo da bola se conhece por "bitaites". Mas a vida tem destas coisas e no dia em que deveria estar a celebrar três anos de mandato foi obrigado a dizer a um grupo de trabalhadores que não lhes podia dar nada. Não pode dar nem pode ajudar quem tem poderes para fazê-lo, a verdade é que os vastos conhecimentos de economia de Cavaco Silva terão sido mais úteis em tempos de vacas gordas do que se estão a revelar perante uma crise grave.
Ora, se os vastos conhecimentos e experiência de política económica não estão a ser de grande valia, restaria a Cavaco Silva fazer aquilo que se espera de um Presidente d República, ele próprio percebeu-o e fez mais uma declaração nesse sentido. Só que nem todos têm a memória assim tão curta e recordam-se do ambiente de intriga promovido durante meses por “assessores” anónimos de Belém, começaram com a escolha de Manuela Ferreira Leite e só pararam quando exageraram e obrigara Cavaco Silva a emitir um comunicado desmentindo as notícias que corriam. Todos se lembram das intervenções de Manuela Ferreira Leite antecipando declarações do próprio Cavaco Silva.
Entre as promessas de Cavaco que ultrapassavam as suas próprias competências e o exercício das atribuições que a Constituição lhe confere resta esperar que Cavaco Silva se concentre na Presidência, significando isso que não ultrapassa as suas competências e não as exerce através de assessores intriguistas e anónimos.