Compreende-se a reacção de Manuela Ferreira Leite, ainda não está refeita da nomeação do presidente da Caixa Geral de Depósitos já que o seu nome foi um dos três propostos a José Sócrates, tendo sido preterido pelo primeiro-ministro. Também não está disposta a perder a oportunidade de forçar a nomeação de um dos seus, estando na oposição tem pouco para oferecer aos seus apoiantes e um cargo que dá mais mordomias do que trabalho é um bem precioso em tempo de vacas magras.
O argumento de que deve ser a oposição faz algum sentido, mas nesse caso faz igualmente sentido que não seja o PSD a sugerir o nome já que o cargo não só está a ser desempenhado por um ex-ministro do PSD, como já foi desempenhado por outros nomes desse partido. Aliás, se esta regra devesse valer e a nomeação do provedor cabe ao PSD faz sentido questionar Manuela Ferreira Leite se defende que o Provedor deve pedir a demissão no caso de mudar o partido que está no poder. Recorde-se que Nascimento Rodrigues foi nomeado quando Guterres era primeiro-ministro, tendo-se mantido no cargo durante os governos de Durão Barroso e Santana Lopes.
De qualquer das formas, o argumento de que o cargo deve ser desempenhado por alguém da oposição é mero oportunismo circunstancial de Manuela Ferreira Leite, ou então está esquecida de que Menéres Pimentel (provedor entre 1992 e 2000) foi designado quando Cavaco Silva. Meneres Pimental não poderia ter sido mais do PSD, foi fundador, deputado, líder parlamentar, presidente da Comissão Política Nacional e membro de dois governos.
Talvez seja tempo de a escolha do Provedor de Justiça fugir a esta lógica oportunista que conduz ao desprestígio do cargo nomeando alguém segunda a lógica dos boys. Um cargo como este merece alguém escolhido a pensar na representação dos cidadãos e não deve resultar de uma partilha de mordomias entre boys de primeira dos dois partidos que habitualmente governa.