Um livreiro de Braga decidiu livrar-se dos restos de colecção e demonstrando uma especial vocação para o marketing descobriu que a melhor forma de assegurar uns cobres era expor o livro com a capa sugestiva bem à vista de quem passasse. Não admira que o livro tenha despertado a atenção da pequenada, afinal a obra tinha sido uma encomenda ao pintor Gustave Coubert por um diplomata turco que coleccionava imagens eróticas. A PSP decidiu armar-se em protectora dos bons costumes e apreendeu os preciosos exemplares, foi o suficiente para o país se alvoraçar.
Que era a censura, que a PSP tinha abusado, o editor até deu entrevistas às televisões com processos judiciais em defesa da liberdade e da democracia. Até um jornal de referência consultou catedráticos e especialistas em arte, concluindo que com formação académica equivalente a uma licenciatura o chefe da polícia local deveria saber que a mesma imagem é arte se produzida com pincel e óleo e que é pornografia se obtida com uma câmara fotográfica.
Mais a sul, no Carnaval de Torres, uma magistrada decidiu que imagens de mamas ao léu não combinam com o infantil Magalhães e foi o que se viu, até a Joana Amaral Dias (igualmente ruiva e bem mais interessante do que a há muito falecida modelo do Gustave) se passou e mostrou ao país que desconhece que os magistrados do Ministério Público não obedecem ao Governo. Muita gente questionou a formação da beldade bloquista, mas ninguém reparou que nos modelos de sociedade defendidos pelas diversas correntes do Bloco há um ponto em comum, em todos eles os tribunais não são independentes do poder do partido. Mas não vale a pena ir por aí, não faltam no nosso Ministério Público delegados que partilham do mesmo ideal político e que todos os dias defendem a independência da justiça.
O editor lá deve ter vendido os livros e a estas horas muitas mães de Braga deverão estar a deliciar-se com o livro “Pornocracia”, pode ser que daqui a nove meses ocorra um aumento repentino aumento da população local. O Carnaval de Torres beneficiou da publicidade gratuita e as televisões estiveram lá em peso, mas no fim em vez de nos mostrarem o Magalhães maroto optaram exibir o “tomate” do Cristiano Ronaldo, momento de inspiração que foi comum a todos os canais de televisão, essas prima-donas da democracia.
Estes pequenos exemplos mostram como este país, estes comentadores, estes órgãos de comunicação social estão preocupados com a crise. Qual crise, qual avaliação dos professores, qual congresso do PS, quais propostas de Manuela Ferreira Leite, qual cabeças de lista às europeiras, o que mais nos preocupa é a "origem do mundo" e os ditos do Cristiano Ronaldo!