É verdade que neste momento o desemprego é grande mas não é assim tão maior quanto era antes da crise. Há empresas a encerrar quase todos os dias mas isso não é novidade, só que dantes a culpa era das deslocalizações. Muitas empresas têm dificuldades em exportar mas isso tem sido um tema de debate permanente nos últimos anos, mas a causa era a baixa produtividade.
Se dantes os grandes investimentos públicos eram justificados com a necessidade de modernizar o país agora são apresentados como solução para combater a crise, isto é, o governo só deu pela crise quando a água já lhe chegava aos joelhos mas já tinha previsto a realização de investimentos para a combater dois anos dos bancos americanos sentirem dificuldades. A própria Manuela Ferreira Leite que era contra as obras públicas porque não havia dinheiro defende agora que o tal dinheiro que não existia deve ser investido nas pequenas e médias empresas, nada como uma crise para aparecer dinheiro.
As empresas que nos últimos anos justificavam os despedimentos com “reengenharias” agora anunciam despedimentos preventivos receando os resultados futuros da crise actual.
A banca que nunca praticou “spreads” baixos e que agora beneficia de taxas mais baixas e é mais exigente na concessão de créditos encontrou na crise um excelente argumento para fazer disparar as taxas de juro para níveis mais próprios da usura. Daqui a um ano, quando os seus lucros rivalizarem com os da EP e da GALP vão-nos explicar que resultaram da competência dos seus gestores. Por cá os gestores das empresas dadas ao proxenetismo são sempre muito competentes.
Até no plano ideológico a crise serviu para ressuscitar Marx e reanimar os defensores da ditadura do proletariado, uns armam-se em obamistas e dizem que melhor é possível, outros sonham com uma esquerda grande, tão grande como a que permitirá a Chávez eternizar-se no poder.
Enfim, a crise tem mesmo costas largas.