A substituição do ministro Correia de Campos por uma alegrista que foi ao parlamento discutir o orçamento da Saúde sem ter a mais pequena ideia dos números do ministério diz tudo sob o alegrismo. Portugal interrompeu uma reforma contra a qual se uniu o PCP, o BE e o PSD autárquico e Manuel Alegre aproveitou para ganhar protagonismo. Recordo-me que Alegre protestou contra o encerramento da maternidade de Elvas, mas já se deve ter esquecido disso, por lá estão todos contentes com a mudança.
Seria muito grave para o país se toda a acção governamental estivesse condicionada às ambições presidenciais de Manuel Alegre, se todas as reformas fossem interrompidas sempre que houvessem manifestações, que os ministros fossem substituídos por alegristas sempre que o poeta acordasse zangado com o Governo.
Nada tenho que ver com o PS, não sou seu militante nem nunca obtivesse qualquer benefício em consequência das minhas opções políticas, portanto, nada tenho que ver com alegrismos ou outros clubes de boys desavindos, da mesma forma que não pretendo ser boy socrático. O PS pode faze as escolhas que entender, Sócrates pode negociar como bem entender, mas se Manuel Alegre conseguir transformar uma derrota presidencial num mini grupo parlamentar quatro anos depois não votarei no PS, com o meu voto Manuel Alegre não terá deputados pessoais.
Compreendo que António Costa queira continuar a ser presidente da Câmara Municipal de Lisboa a qualquer custo, que depois de um mandato em que pouco se fez tente todos os truques par conseguir os seus objectivos, sabendo-se que a recondução no cargo vai depender da opção de Helena Roseta. O que António Costa defende, afinal, é que Sócrates ceda a Manuel Alegre para que, em contrapartida, Helena Roseta o apoie na sua candidatura a presidente da Câmara Municipal de Lisboa. Isto é, quer que o país se torne ingovernável para que a sua carreira política na autarquia sobreviva. Aliás, já por várias vezes António Costa mostrou que está mais preocupado consigo próprio do que com o governo do seu partido, fê-lo a propósito dos professores, fê-lo na questão da segurança em Lisboa e fê-lo agora propondo uma coligação absurda de que o único beneficiário seria ele prórprio.
Pessoalmente nada tenho que ver com jogos palacianos que têm mais que ver com as ambições pessoais de Manuel Alegre ou de António Costa pelo que considero que um governo resultante destes jogos não só seria um desrespeito pelo eleitores como seria bem pior do que um governo coerente e com estabilidade de políticas e de objectivos, ainda que fosse de direita. Se Sócrates ceder aos disparates de Manuel Alegre para fazer o jeito a António Costa não votarei PS.
Se mais razões não houvessem para esta decisão bastaria referir que tenho sido apoiante de todas as medidas que Alagre tem criticado para conquistar mercado eleitoral e não alinho em romantismos alegro-bloquistas.