Quando Manuela Ferreira Leite exige o pagamento das dívidas do Estado tem razão, da mesma forma que o Governo faz bem ao prometer o seu pagamento. Se no passado era fácil as empresas recorrerem ao crédito bancário para compensarem estas dívidas, actualmente isso é difícil e quando possível tem custos elevados. Nestas circunstâncias as empresas são obrigadas a financiar as dívidas com os seus próprios capitais, não podendo financiar novos negócios e relançar a sua actividade. Nestas circunstâncias o abuso das dívidas do Estado é um crime contra a economia.
A decisão da Assembleia Municipal de Lisboa de impedir a Câmara de recorrer ao crédito para pagar aos seus fornecedores é uma decisão criminosa, que retrata bem a mentalidade dos políticos de baixo nível que pululam no nosso país. A maioria PSD da Assembleia Municipal, uma maioria fantoche face ao que sucedeu na autarquia, está mais preocupada com o seu futuro político, com o seu taxo municipal, do que com as empresas e os lisboetas, poucos lhes importa que muitas dessas empresas possam estar em dificuldades ou que alguns dos seus empregados tenham que enfrentar o desemprego, o que importa é impedir a qualquer custo que a autarquia funcione e cumpra com as suas obrigações.
É muito mais fácil à autarquia recorrer ao crédito em condições de juro favoráveis do que aos fornecedores que aguardam o pagamento das dívidas, muitos destes poderão não ter acesso ao crédito e se o conseguirem vão suportar taxas de juro bem muito superiores às negociadas com a autarquia. Mas isso não importa a deputados que estão na Assembleia Municipal ao serviço do seu candidato às próximas eleições autárquicas.
Temos aqui um bom exemplo da política de verdade e honestidade de que Manuela Ferreira Leite tanto fala, em público a líder do PSD apresenta-se como a defensora dos bons princípios, em privado não hesita em mandar os seus militantes aprovar decisões que configuram crimes contra a economia, ainda por cima quando se sabe que muitas das dívidas que seriam pagas resultam dos excessos dos seus próprios autarcas.
O que se passou na autarquia de Lisboa é um episódio entre muitos que mostram que uma boa parte da nossa classe política está mais preocupada com o seu cargo e os benefícios que este proporciona do que com a causa pública.