Quando um aluno que chumbou começa um novo ano merece um tratamento especial? Os novos professores contam com um dossier com informação pormenorizada das dificuldades que o aluno sentiu? Os encarregados de educação foram envolvidos ou aceitaram envolver-se numa estratégia de recuperação? Duvido que se faça muito, o aluno chumba e recebe o mesmo tratamento dos restantes alunos da turma. O mais certo é reprovar de novo e tudo volta a acontecer.
Mas centrar as causas do insucesso na escola pode ser um erro, há grupos sociais e étnicos que desvalorizam a importância da escola, os pais estão muito pouco preocupados com a prestação dos seus filhos. Em Portugal os pais, mesmo os que vivem de apoios sociais são responsabilizados pela falta de empenho na educação dos alunos. Nem eles querem saber das escolas nem as escolas quem saber deles, para um director de turma é mais fácil dialogar com o pai de um aluno bem sucedido do que com um pai que é capaz de reagir ao insucesso ou problemas disciplinares dos filhos com violência.
Da mesma forma que na miséria tende a eternizar-se ao tornar-se em miséria cultural, a reprovação tende consolidar-se, uma boa parte dos alunos que reprovam fazem-no mais de uma vez, muitos deles não chegam a concluir a escolaridade obrigatória, muitos poucos conseguirão superar os problemas e ter uma carreira de sucesso na escola.
Perante este problema e sendo certo que o actual modelo não funciona o mínimo que se espera é que se reflicta sobre as soluções, foi o que parece que a ministra da Educação propôs. Infelizmente não há seriedade no debate político, os partidos da oposição aproveitaram para se engalfinharem e dizerem “aqui d’El Rei que a ministra quer bandalhice!”. Aliás, pela reacção aos resultados de exames pode-se concluir que para os nossos políticos e até para as associações de professores um dos indicadores da qualidade do sistema de ensino é a quantidade de chumbos. Quantos mais chumbos maior o rigor, quanto maior rigor melhor o ensino. Pensam assim porque é o que populaça quer ouvir e, infelizmente, querem debater o ensino com os argumentos da populaça.
É lamentável o baixo nível de seriedade a que chegou o debate político em Portugal, nem mesmo num sector tão importante para o país os nossos políticos dispensam, os argumentos sujos.