Chamava-se Josefa como se poderia chamar Filomena ou muitos dos nomes deste povo, de um povo que não lê os artigos da Felícia Cabrita no Sol, que não se preocupa com as dúvidas existenciais de procuradores remunerados muito acima da média e que desde que inventaram os computadores nem nos dedos têm calos.
Enquanto a classe política fazia as pazes nas águas quentes do Algarve a Josefa morreu anónima num dos muitos incêndios ateados, pela incúria, pela falta de civismo ou pelo simples prazer criminoso de ver o país arder. Num país onde cada um faz o possível por enriquecer o mais possível, onde são cada vez menos os que lhe dão alguma coisa, a Josefa deu a vida.
Era estudante e estava de férias, mas apenas meias férias pois trabalhava em part-time, mesmo assim ainda era bombeira e quando a sirene tocou partiu para os incêndios, talvez ao mesmo tempo que uma boa parte das nossas elites punha os chinelos para irem para a praia.
Há dois países neste Portugal, os que têm férias e os que não têm, os que enriquecem de forma fácil e os que fazem pela vida, os que chulam o orçamento ao abrigo de estatutos corporativos e os que têm de trabalhar duro se querem comer, os que tudo querem e se sentem no direito de pedirem mais e os que tudo dão sem esperar receber.
Josefa pertencia ao segundo país, ao país que luta, que constrói, que dá que dá a Portugal o que resta do sentido de Nação.