Ainda ontem tivemos um bom exemplo desse mercado, vários doentes sujeitos a cirurgias oftalmológicas sofreram infecções gravíssimas e o que sucedeu? Era de esperar que fosse a clínica privada que os operou a suportar os custos, no mercado existem soluções de seguros que cobririam todas as despesas de tratamento e era lógico que essa fosse a solução. Mas não foi isso que sucedeu, os doentes transitaram para o Serviço Nacional de Saúde. É isso que está a suceder com as clínicas e hospitais privados portugueses, quando os doentes dão prejuízo transitam para hospitais públicos.
Quando o governo vetou inicialmente o negócio da Vivo os nossos liberais protestaram , tal como já o tinham feito quando Belmiro de Azevedo tentou comprar a PT por muito menos do que a Telefónica pagou pela Vivo. Mas não me recordo de ver os nossos liberais questionarem se existe concorrência no mercado das telecomunicações. Para os nossos liberais o mercado é virtuoso mesmo quando não existe.
Partilho com os liberais que um mercado onde existe concorrência pode produzir melhores resultados do que a gestão pública, ainda que isso não me leve a considerar que a boa gestão de sectores como a saúde deva ser avaliada apenas na perspectiva comercial. Mas isso não me leva a confundir as virtudes dos mercados com as virtudes das empresas e muito menos a esquecer que uma boa dos nossos mercados não passam de verdadeiros esquemas de extorsão dos consumidores.
Antes de questionar o papel do Estado seria interessante avaliar a qualidade dos nossos mercados começando pelo mercado de capitais onde esta semana tivemos um bom exemplo, os gestores do Finibanco sabendo da Opa do Montepio e do valor que seria oferecido pelas suas acções compraram várias centenas de milhares de títulos a um preço muito inferior, garantindo lucros fáceis à custa de investidores ingénuos.
Se os mercado devem decidir tudo na nossa economia então os nossos liberais antes de questionarem o papel do Estado deverão avaliar a saúde e transparência dos mercados.