Não admira que ameace com uma crise política, até sugere que seja o partido que ganhou as eleições e governa legitimamente a antecipar as eleições, isto é, propõe a Sócrates o que o PSD criticou a António Guterres. Só que tem um pequeno problema, sozinho o PSD não derruba governo nenhum, a esquerda conservadora até poderá ajudá-lo se mantiver a aliança que se tem desenhado durante a actual legislatura mas resta saber se Portas está disponível para o ajudar.
Ao sugerir uma crise política e eleições antecipadas na sequência de uma demissão do governo antes do dia 9 de Setembro Passos Coelho parece estar a tentar resolver os seus problemas, se tal sucedesse não só iria a eleições antes de maiores quedas nas sondagens e, melhor ainda, ficaria dispensado de explicar melhor o seu projecto de revisão constitucional. Há um mês Pedro Passos Coelho queria mudar o país com um projecto de revisão constitucional, agora pede ao PS que lance o país em crise antes de ter de cumprir essa promessa.
Temos portanto um líder político que acha fundamental mudar a constituição mas perante a queda nas sondagens borrifa-se nesse projecto e quer ir a votos antes que se faça tarde. Por outras palavras, temos um líder político que ficou embriagado com as sondagens iniciais e a partir de então não sabe muito bem o que fazer. Receia levar os seus projectos até ao fim, recolhe-se em silêncio e manda os vices falar com receio do desgaste. Não tardará muito a aproximar-se de Paulo Portas se perceber que nunca conseguirá uma maioria absoluta.
Pedro Passos Coelho hesita, não parece saber o que quer, talvez porque os seus conselheiros e mentores estão de férias, ficaram demasiado animados com as sondagens e cometeram erros sucessivos. Agora hesita, quer uma crise política mas receia criá-la, quer rever a constituição mas preferia que uma crise política o dispensasse do frete. O problema é que depois de prometer avançar com o projecto e das ameaças feitas no Algarve a iniciativa pertencee-lhe, um drama para um hesitante.