Os portugueses habituram-se a tratar aqueles senhores de preto com expressões de temor próprias do feudalismo, sabem que um qualquer licenciado em direito com umas explicações adicionais no Centro de Estudos Judiciários pode dar-lhes cabo da vida. É um medo herdado de um passado em que essa mesma justiça serviu cobardemente o poder.
Com o 25 de Abril os antigos ajudantes jurídicos da PIDE reformaram-se, criou-se a expectativa de uma justiça com valores democráticos, até se confiou naqueles que dantes ajudavam a PIDE na acusação a defenderem a legalidade democrática. Foi uma ilusão, a justiça continuou a impor-se pelo medo.
Dantes tínhamos medo de sermos ouvidos ocasionalmente por um bufo, agora receamos ser escutados as vinte e quatro horas do dia. Dantes tínhamos medo do tribunal plenário, agora receamos os artigos da Felícia Cabrita, nos meu caso os artigos do PPM. Dantes temíamos os tribunais plenários, agora receamos as notícias dos Cerejos.
A justiça portuguesa nunca conseguiu ser democrática, nunca alcançou o respeito dos portugueses, continua a usar a estratégia do medo para se impor, a única diferença reside no facto de antigamente os magistrados lamberem as botas do poder enquanto agora acham que é o poder que lhes deve lamber as botas.
Aquilo a que assistimos nos últimos anos tem sido uma vergonha, simulando uma pretensa luta contra a corrupção os magistrados tentaram destruir vários políticos, só secretários-gerais do PS tentaram eliminar dois, José Sócrates e Ferro Rodrigues. Mas pelo menos neste capítulo os nossos justiceiros, gente que por recear passar fome na advocacia optou pelas mordomias seguras da magistratura (a não ser que apareça algum Sócrates a embirrar com corporações), tem revelado alguma democracia, também têm destruído políticos da direita.
Agora até querem que o procurador-geral seja escolhido pelo MP, isto é passamos a ter uma investigação conduzida por sacerdotes a quem cabe a escolha do seu bispo. Deus nos livre de tais evangelizadores.