FOTO JUMENTO
Esquilo no Parque Florestal de Monsanto
JUMENTO DO DIA
Pedro Passos Coelho
Um dos alicerces do estalinismo é a inefabilidade do líder, o chefe é um Messias com inteligência ilimitada que nunca pode ser questionado ou responsabilizado por quaisquer erros. Se fosse noutros tempo Paulo Teixeira Pinto seria tramado, em vez de ser responsabilizado pelo brilhante projecto de revisão constitucional do líder seria acusado de erro premeditado para prejudicar a imagem do líder, fando-o passar por idiota, julgado e fuzilado, as suas fotografias seriam eliminadas e não se falaria mais do assunto. Agora tem alguma sorte, limita-se a ser enxovalhado pela mensagem passada pelos jornais que simpatizam pelo líder, ficamos a saber que Passos Coelho continua a ser brilhante e que o projecto de revisão constitucional foi uma aselhice do ex-administrador do BCP.
Só que este linchamento jornalístico ocorre depois de Pedro Passos Coelho ter feito seu o projecto de revisão constitucional, de ter acusado o PS de resistência à mudança e de nervosismo. Foi necessário perceber que perdeu credibilidade e uma descida abrupta nas sondagens para o líder do PSD recuar e mandar dar um golpe baixo em Paulo Teixeira Pinto.
Resta agora saber quem vai ser o culpado por Pedro Passos Coelho ter ido a Espanha defender os interesses da Telefónica.
O HOMEM TRANSPARENTE
«Toda a gente conhece aquele filme em que um cientista toma a poção da invisibilidade: fatos que se movem sem ninguém lá dentro, cigarros fumados pelo ar e tropelias a suceder-se sem que se vislumbre o autor. A performance recente de Passos Coelho, com relevo para o espantoso comício do Pontal, recordou-me esse clássico de 1933 baseado no livro de H. G. Wells e sobretudo a sua remake de 2000, O Homem Transparente.
Militante do PSD há muito, Coelho só se tornou notório na cena política aquando da disputa de 2009 à liderança do partido. Durante o tempo de Ferreira Leite, demarcou-se habilidosamente do discurso da líder e da via da "Verdade" que ela sintonizou com Belém, aparentando uma atitude de quem queria discutir políticas e não caracteres; ao assumir a liderança, adoptou a postura de "homem de Estado". Foi por ali acima nas sondagens e, encorajado pela maioria absoluta virtual, avançou com uma proposta de revisão constitucional que sublinhava a flexibilização dos despedimentos. O resultado foi o expectável: uma quebra de dez pontos percentuais que o colocou pouco acima de um partido desgastado por cinco anos de governação e por uma crise económica brutal. Aflito, Passos Coelho desmultiplicou os lugar-tenentes em declarações contraditórias e patéticas (a palma vai para Relvas), mas pareceu ter o bom senso de se proteger do recuo ideológico. Até ao Pontal. O homem que apareceu no Pontal enterrou o liberalismo na areia juntamente com a "indispensável" revisão constitucional; atreveu-se ao mau gosto de, ontem defensor incondicional do "direito a escolher na saúde" e do recurso aos privados e crítico daquilo a que chama "o Estado social", associar a tragédia da clínica privada de Lagoa às "filas de espera" (ou coisa que o valha, tal a ininteligibilidade); perante o estado de guerra no ministério público saltou para o lado do sindicato acusando o Governo de "como nenhum outro interferir na justiça" - repetindo assim as acusações e insinuações da direcção do PSD que derrotou.
A única coisa em comum entre o Passos Coelho de antes do Pontal e de depois do Pontal é, então, o fato de presidente do PSD e a vontade (que vem com ele) de chegar ao poder - sendo que até a pressa que agora o consome contrasta com a arguta paciência que lhe era atribuída. Face a tal revelação, ver o salvífico e responsável Coelho que foi a São Bento apoiar o PEC 2 fazer a ameaça de chumbar o Orçamento do Estado para 2011 por causa do PEC 1 (viabilizado pelo seu partido em 2009 e compromisso do País perante a UE) não pode surpreender: como o cientista do filme, Passos Coelho parece achar que não deixa rasto. Uma constatação tanto mais irónica quanto houve quem visse nele um homem de ideias. E claras, ainda por cima. Eram transparentes, afinal. » [DN]
Parecer:
Por Fernanda Câncio.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»
TUDO SOBRE O CRIME DO RIO
«A bandeira brasileira é das mais estranhas. Tem constelações que, por lei, mostram "o céu, na cidade do Rio de Janeiro, às 8 horas e 30 minutos do dia 15 de Novembro de 1889", dia da instauração da República. Parece verso de canção de Vinicius. Mais seca é a legenda que atravessa o firmamento no meio da bandeira: "Ordem e Progresso". É da frase do filósofo positivista francês Auguste Comte, que inspirou os republicanos brasileiros: "O amor por princípio e a ordem por base; o progresso como objectivo." A frase inteira está no frontão do Templo Positivista do Brasil, no velho bairro da Glória, no Rio. Os franceses derretem-se ao topar com essa antiga influência. O templo tem colunas como o Panteão de Paris, mas depois é o desastre. Há um ano ruiu o telhado e ainda lá está o buracão, como para deixar que espreitem o céu carioca os poucos positivistas actuais - reuniões semanais de 15 pessoas, lideradas pelo actual presidente da igreja, Danton Voltaire de Souza. Esta semana, mais uma notícia do abandono: foi roubada a primeira bandeira brasileira, que estava guardada no templo onde ela foi criada. Não houve grande emoção nacional. O templo fica na Rua Benjamin Constant, outro filósofo francês. É de Constant esta frase: "Infeliz daquele que, nos primeiros instantes de um amor, não acredita que ele vai ser eterno." Bonito, mas vamos ser positivistas: nada é eterno. » [DN]
Parecer:
Por Ferreira Fernandes.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»
DE MANTA ROTA A MASSAMÁ
«Passos Coelho não pode dizer, como Cavaco Silva, que "subiu a vida a pulso" - o pai é médico e aos 20 e poucos anos ele próprio era deputado da nação. Mas é o primeiro dos sucessores de Cavaco Silva no PSD a replicar com afinco o fabuloso e (para Cavaco) absolutamente eficaz mito do homem comum, frugal e remediado, o "homem que veio do povo" para ser eleito pelo povo. No sábado, a primeira página do "Expresso" mostrou ao país a casa alugada na Manta Rota. Uma casa - "modesta", segundo o "Correio da Manhã" - numa praia algarvia sobrepovoada em Agosto é uma excelente metáfora de um contraste "de classe" com um primeiro-ministro socialista, habituée das cinco estrelas do Sheraton Pine Cliffs de Albufeira.
À noite, no "Pontal" de Quarteira, o inefável Mendes Bota revelou entusiasticamente a estratégia. O homem - "este homem", gritou Bota - "é um verdadeiro exemplo do português simples" e, fundamental para esta geografia política, "vive em Massamá, não vive num condomínio fechado". Massamá, um dormitório no concelho de Sintra a rebentar de "portugueses simples", é portador de um índice de simplicidade triliões de vezes superior à fracção do prédio Heron-Castilho, no centro de Lisboa, dirigido às classes AA+ da proficiência económica, propriedade do primeiro-ministro. Enquanto símbolo de modéstia, situa-se alguns degraus acima (em valor relativo de simplicidade) de Cavaco Silva: a Travessa do Possolo pode ter este lindo nome, mas fica no centralíssimo bairro da Estrela, onde o valor do metro quadrado é assinalável. Mendes Bota não escondeu ao que vinha: "Este homem é um português que passa férias junto aos normais portugueses, não passa férias em hotéis de luxo e cinco estrelas. Este homem compreende o povo porque vem do povo!" Quem não ouviu, vá ao YouTube. Está lá tudo.
Este recurso à velha narrativa cavaquista aparece agora como sugestivo antídoto contra a carga liberal associada ao projecto de revisão da Constituição, o primeiro grande erro político da liderança "passista". Mas Cavaco Silva não era, nem nunca foi, um liberal. Conhecia o povo genericamente pobre de onde vinha e que se agarrava ao Estado, para o melhor e até para o pior. Em Massamá, Passos já devia ter percebido que um programa liberal não passa e que num país muito pobre e povoado de "homens simples" há pouco mais certezas do que um serviço de saúde público, escolas para todos e um subsídio de desemprego em tempos de crise.
No Pontal, Passos esforçou-se muito por emendar a mão atacando o "mau Estado social do PS". Foi a melhor parte da "rentrée", mas não chega: para ganhar as eleições não chega viver em Massamá. É preciso compreender Massamá.» [i]
Parecer:
Por Ana Sá Lopes.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»
TÍTULO 13
«Numa turbulência de adjectivos, certos jornais, especialmente um, regozijaram-se com a subida do produto interno bruto da China.
Com infogramas, caixas coloridas, gráficos, animaram as páginas correspondentes ao airoso acontecimento. Uma vuvuzela quase ensurdecedora, e de significado duvidoso, a dissimular um jornalismo de mau porte, que tem sido, nos últimos anos, característica fundamental da nossa Imprensa.
Muitos anos de batucar prosa, organizar, paginar jornais, dão-me, segundo modestamente creio, uma certa autoridade para falar deste assunto. Claro que nada tenho a ver com as "dissecações" que o Pacheco Pereira costuma fazer. O Pacheco Pereira é um ignorante em matéria de jornalismo, e um preopinante tocado pela ânsia doentia de protagonismo. Politicamente, sabe-se o que ele é. Como "técnico" de ideias gerais, especialmente de jornalismo, é um pascácio. Depois do primeiro atordoamento, as pessoas começaram a ver a espessura intelectual do sujeito.
Adiante, que se faz tarde. A alegria esfuziante dos jornais (especialmente um, adivinhem qual) sobre o poder económico da China não é uma ambiguidade, é uma leviandade e uma gravíssima omissão. A China, cujos dirigentes mascaram a política e a ideologia com a bizarra expressão: um país, dois sistemas, constitui a representação típica do mais atroz ataque aos direitos humanos. As luzes das grandes cidades, a introdução das grandes marcas e das multinacionais, as montras refulgentes, os concursos de moda e de beleza as raparigas muito belas, vestidas à maneira ocidental (o que quer que esta palavra queira dizer) ocultam uma sociedade sinistra. Milhões e milhões de pessoas trabalham sem horários ou com horários falaciosos, auferindo salários de escravo. As execuções por "crimes económicos" são conhecidas, embora pouco conhecidas, porque a revelação destas atrocidades não interessa aos "negócios."
A violência e a desumanização nas aldeias, onde a miséria, a fome e o desespero são os retratos malditos de um sistema que não é carne, nem peixe, nem arenque vermelho, envergonham aqueles que ainda têm um pingo de dignidade. Como se regista e vê, os jornais deixaram de referir a China como um atentado à decência humana. Desde que os seus dirigentes abriram as portas ao "mercado" e aos imensos interesses da compra-e-venda, operou-se um silêncio nos meios de comunicação que chega a ser afrontoso.
Ao enunciar, com alegre irresponsabilidade, a grande vitória económica da China, aquele jornal que não quero nomear, dizia, levemente cabisbaixo: "Num regime nada perfeito, é uma arma de peso considerável." Que raio de jornalista é este que redigiu a frase infamante? As pessoas deixaram de contar, eu sei, para aqueles que existem nos números e nos cifrões. Mas que haja um jornalista, por muito afecto aos fascínios do "mercado", capaz de produzir uma frase desta natureza, então, a coisa é mais grave do que eu próprio julgava.
Vivemos numa "democracia de superfície" cujas mal-formações irão agravar-se com as exigências do capitalismo, cada vez mais predador. Pouco são, hoje, aqueles, jornalistas, intelectuais, escritores, artistas, que se opõem a esta medonha vaga de fundo. Mas há alguns. E é nesses alguns que devemos apoiar as nossas esperanças: estimulá-los, agradecer-lhes. Muita coisa de ordem moral, humana e decente está em jogo. A Imprensa possui um papel crucial nesta nova batalha das ideias. Que os seus profissionais não se deixem abater por circunstanciais históricos, e que defendam, com bravura, a grandeza do homem.
O volte face que se operou, em termos informativos, relativamente à China tem a ver com a manipulação e com a ignorância. Há tempos, o dr. Fernando Nobre, por quem nutro admiração e respeito, disse, numa programa na SIC, depois de assistir à exibição de um documentário sobre o sistema de saúde nos Estados Unidos: "É isto que não quero para o mau país." Acusava o facto de milhões de norte-americanos, sem seguro de saúde, estarem à mercê dos abandonos sociais. A grande rábula de os "privatistas" apoiarem as suas teses no direito de cada cidadão escolher o seu médico, é uma aldrabice monstruosa. Pedro Passos Coelho prevê, para Portugal, um processo e uma situação semelhantes. Não há que fugir a esta evidência.
O Pacheco, obviamente, é antagonista do jornalismo de causas. É um homem que abjurou, e que encontrou, no hálito da Direita mais reaccionária, o calor do seu querer. Fere, por ignorância, uma das grandes e mais honradas tradições da Imprensa portuguesa. E os paladinos da "distanciação" colaboram, miseravelmente, nesta ofensiva, sem se aperceber (ou apercebem-se?) de que empurram para o abismo uma das grandes profissões de defesa do humano.» [Jornal de Negócios]
Parecer:
Por Baptista-Bastos.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»
ABUSO NAS ESPLANADAS DA BAIXA
«Grande parte das esplanadas da Baixa lisboeta infringe a lei, colocando o triplo do número de mesas autorizado pela Câmara de Lisboa. Quem cumpre as normas queixa-se de concorrência desleal, pois os infractores só pagam à autarquia a taxa anual de um terço do espaço que ocupam. Os peões sentem-se incomodados sem espaço no passeio para andar, enquanto o autarca da freguesia de S. Nicolau alerta que as viaturas dos bombeiros não podem passar e a segurança da Baixa fica em risco. O vereador José Sá Fernandes garante ao DN que "um novo regulamento vai fazer isto entrar tudo nos eixos, já em 2011".
António Manuel, presidente da Junta de Freguesia de S. Nicolau, salienta que "o mais problemático é na Rua dos Correeiros, porque é estreita. Por vezes, põem as mesas a ocupar a rua desde um lado ao outro. As pessoas têm de andar aos 'esses' para passar entre as mesas. E os veículos de socorro dos bombeiros não conseguem passar".» [DN]
Parecer:
O argumento do Zé dá vontade de rir, com a Rua Augusta cheia de polícias municipais é evidente que os abusos são tolerados.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Dê-se a merecida gargalhada.»
MP INVESTIGA BLINDADOS ... CINCO ANOS DEPOIS
«A Comissão Permanente de Contrapartidas (CPC) e o Ministério da Defesa não se entendem na avaliação do programa de construção das viaturas blindadas de rodas Pandur II, cujo contrato representa para o Estado um custo de 364 milhões de euros.
Os sucessivos atrasos na entrega das Pandur ao Exército e à Marinha levaram o Ministério da Defesa a ameaçar com a resolução do contrato com a Steyr-Daimler-Puch (que pertence ao gigante General Dynamics). Mas documentos a que o i teve acesso mostram divergências na avaliação da evolução do programa militar, sobretudo no que diz respeito à produção dos blindados na empresa portuguesa Fabrequipa.
No final de 2009, a CPC, órgão presidido pelo embaixador Pedro Catarino que tem a função de acompanhar a execução de todos os programas associados ao contrato com a Steyr, apresentou um relatório em que se pode ler: "Atendendo às circunstâncias e às várias vicissitudes ocorridas durante este período, pode considerar-se que houve uma evolução positiva do programa durante o ano de 2009, designadamente na área da produção nacional (contrapartidas directas), onde a Fabrequipa correspondeu às expectativas ao conseguir produzir o número de viaturas que o novo calendário aprovado exigia." » [i]
Parecer:
Isto não é um Ministério Público, é um Ministério da Arqueologia!
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Proponha-se a mudança de nome.»
ALUNOS SÃO CADA VEZ MAIS FRACOS
«De um lado da trincheira está a professora universitária que reprovou quase 70% dos seus alunos; do outro, a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa que lhe retirou a regência das cadeiras por considerar que a docente aplicou uma "avaliação exorbitante". São os dois flancos de uma batalha travada entre a professora de Técnicas de Laboratório e Segurança, Elvira Gaspar, e o director da faculdade, Fernando Santana. Resta agora saber qual dos dois pratos desta balança é mais pesado. Serão os professores demasiado exigentes? Ou, pelo contrário, estarão os estudantes menos bem preparados para o ensino superior?» [i]
Parecer:
E os docentes, não serão também?
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Proceda-se a uma avaliação comparativa que inclua também os docentes.»
TEM A CERTEZA DE QUE A CRIANÇA ADORMECEU?
SEA SHEPHERD