quarta-feira, julho 10, 2013

A troika demitiu Vítor Gaspar?

Ainda há poucos dias atrás muito boa gente cá da praça dizia que cairia o Carmo e a Trindade se o país demitisse Vítor Gaspar, os alemães mandariam os seus panzers ocupar Lisboa, Durão Barroso daria um par de tabefes a Passos Coelho, o Simon O'Connor internaria Cavaco Silva, ai do país se tocasse no afilhado do coxo. Numa semana o Gasparoika regressou ao conforto do Banco de Portugal, onde não fica sujeito à austeridade que impôs à Função Pública, já ninguém se lembra dele.
  
A Maria Luís foi a Bruxelas e só faltou o coxo dizer que sempre gostou mais dela do que do Gasparoika, a directora do FMI fez-se fotografar ao seu lado e em poucos minutos a nova ministra enfrentou Paulo Portas, algo que nem o Gasparoika alguma vez ousou fazer de forma frontal, aliás, frontal é coisa que o ex-ministro nunca foi. No eurogrupo já ninguém se lembra do Gaspar, não se ouviu uma única voz a elogiar o seu trabalho ou a homenageá-lo, a reacção colectiva foi o silêncio em relação ao ex-ministro, como se quele que era brilhante seja agora um nome maldito.
   
A demissão de Vítor Gaspar foi a melhor solução para ilibar a troika de responsabilidades no desastre económico de Portugal, os canalhas da equipa do Durão Barroso, dos gabinetes de neo-fascistas do BCE e da bandalhice técnica do FMI usaram o ambicioso Vítor Gaspar como uma pastilha elástica, usaram-no e agora jogaram-no fora. Não passaram assim tantos meses desde o tempo em que os rapazolas da troika se desdobravam em seminários e entrevistas a elogiar o sucesso português por oposição aos gregos. Não foi assim há tanto tempo que sempre que uma manifestação se opunha a uma medida do Gaspar um tal Simon O'Connors, porta-voz da Comissão Europeia, vinha a público ameaçar que ou Portugal aceitava tudo o que o Gaspar decidia ou não vinha mais dinheiro.
 
De repente, o Gaspar demite-se a Maria Luís é aclamada no eurogrupo, o comissários dos assuntos monetários desapareceu e ninguém vê o Durão Barroso. Entretanto, o Vítor Gaspar escreveu uma carta em que assume todas as culpas, ilibando a troika de quaisquer responsabilidades e insinuando que o problema do país é a falta de liderança de Passos Coelho. Até apetece perguntar se a carta foi mesmo escrita por Vítor Gaspar ou se não terá sido uma tradução de uma carta escrita pelo coxo das finanças alemãs. A verdade é que a carta do Gaspar permite à troika ilibar-se de responsabilidades, escapando-se Às responsabilidades pelo desastre que apoiou e pelas suas consequências financeiras.
 
Há quem tenha visto na carta um gesto de honestidade pessoal de Vítor Gaspar, um ambicioso convencido e egocentrista que viu na troika a possibilidade de ascender a um alto estatuto no mundo da economia. Perante o desastre Vítor Gaspar parece ter optado por defender os seus interesses com uma carta que a troika saberá agradecer. Na hora de apurar as responsabilidades da troika e dos seus técnicos incompetentes, gente como Durão Barroso não se vai esquecer de usar a carta para provar que a responsabilidade de todos os erros foi do governo português, foi o seu principal responsável que o afirmou na carta de demissão.

A carta de Vítor Gaspar vale muitos milhões à troika e salva os incompetentes que a representam de uma despromoção nos organismos onde trabalham. Foi mesmo Vítor Gaspar a ter a ideia da carta desnecessária ou essa carta foi escrita para poupar muitos milhões à troika e para proteger os amigos do BCE?